28/07/2022

Icaro em quarentena

                                      


          
Durante esse período  de pouco mais de 6 dias de confinamento no quarto devido ao covid 19, e sendo muito bem tratado pelos meus amores, diga-se de passagem, paro um pouco para refletir. A gente precisa tirar proveito das situações e construir uma estratégia para uma vida mais equilibrada. Principalmente no ciclo emocional. Mas atualmente essa jornada está ficando cada vez mais complicada,

E cá estou eu, esse ser boçal e desequilibrado mental a pensar entre Maquiavel,  Amadeus, Iron Maiden, sim, sou metaleiro convicto, me pego surpreso de como minha personalidade muda. Será isso prenúncio de um amadurecimento?  De um tempo para cá me tem feito falta a angústia do viver, essa coisa da ansiedade. Será? Talvez. Mas fato é que fiquei e continuo por aqui. Cheio de coisas para fazer, mas infelizmente depois da Netflix e watts app, concentração me parece coisa rara. Porém tento. Assisti a História de Mozart, vi uma turnê do Iron Maiden e assisti filmes e séries no Steam. Que beleza. Isto me fascina, porém me faz ver que a cada dia se torna mais dominante. O tal algoritmo é um senhor branco, escravagista que carrega um pesado livro de bruxarias sob o sovaco, que só tem um propósito, comer nossa alma. Apesar de ser uma metáfora, acredito piamente nisso. 


Me assusto diariamente com um pensar pronunciado e ao ver meu celular ou notebook, me chega um artigo, uma mensagem, uma promoção. algo ligado exatamente aquilo que eu pensei. Que medo!


Quando era adolescente, aluno oriundo de escola católica, de freiras, me atirei na leitura, desacompanhado e totalmente perdido, diga-se de passagem, do livro APOCALIPSE. Quase piro. E não é para menos. Até hoje não consegui entender os símbolos nem tenho coragem de retomar minha leitura. Mas uma coisa em particular me chamou a atenção: a passagem onde o evangelista fala sobre a quebra das fronteiras. Para mim, até a invenção do famigerado James Web, as fronteiras já estavam quebradas pela internet, mas agora vejo que as fronteiras estão apenas sendo quebradas. Se bem que o James webb só consegue chegar onde chega devido a assombrosa tecnologia que explodiu pós internet.


E cá estou eu aqui, igual o Ícaro, personagem gêmeo que encarnou no monólogo Insight Insano.  No texto, Ícaro fala que diariamente somos moldados por outros, que nos tornamos diariamente aquilo que alguém que que sejamos. É verdade. todos os dias somos moldados. Os filtros dos app de fotos, nos vendem nas redes como seres quase perfeitos. Acabou o feio, o comum, somos todos celebridades em franca ascensão e se alguém duvidar está lá, ele, o algoritmo para provar o contrário, o sonho de perfeição. Esquecemos que não temos dinheiro, que precisamos nos aperfeiçoar, especializar em relações humanas, e mergulhamos mais e mais nas profundezas do ego em engolido pelos dados.

 

Reflito, penso, como alguma coisa, tomo um banho. vejo tv, assisto um filme, leio um poema do livro POEMA DE BENQUERER de José Ivan Pinheiro, penso em como fui beneficiado com a abençoada e tá negada vacina. Ensaio um pouco, canto um pouco, especialmente pensando em MIO BABBINO CARO, que não teve a oportunidade de tomar nem uma dose da vacina e que partiu sob as asas negras e sem oxigênio do covid 19. E quantos amigos, quantos artistas, quantos pais, filhos, amigos, mães, namoradas, espooso e esposas. Quantas famílias foram desmanteladas pelo vírus mas também pela incompetência dos governos. Afinal, gerir contra o povo é papel de governos.

Porém, voltando aos algoritmos, precisamos tomar muito cuidado porque esses seres de outro planeta, talvez, tem o poder de decidir té o que você gosta, e se formos experimentar o que nos sugerem, certamente iremos gostar de uma coisa que nem jamais acreditamos e ou descobrimos que odiamos aquilo que mais acreditávamos amar. isto pode incluir principalmente pessoas. Estamos com a cara mergulhada nas telas dos smartphones desvendando a alma de quem está ao seu lado. Acreditamos que precisamos “ser mais temido que amados” (Maquiavel) e sem freios com olhos vendados mergulhamos no abismo de nossa Inconsciência. 


Estamos nos tornando um ser frio, mecanizado, sem sentimento e cheio de mimimi. Cancelamento é a ode do momento. Vico pela democracia, pela liberdade de pensamento, desde que esse pensamento seja igualmente igual ao meu sem tirar ponto, vírgula e reticências. Claro, até um novo app mudar meu pensamento é você voltar a ser o arqui-inimigo a quem devo cancelar e execrar. Preferencialmente em rede pública.


Vendo o que acontece agora nas redes em relação ao ator Caio Castro: Não sei o que ele falou, “nem estou para defender ninguém" mas li um monte de comentários odiosos, de pessoas execrando o rapaz e com certeza, igualmente a mim nem um terço da metade daquele povo leu, ou ouviu, e entendeu o que realmente o cara falou. Mas o fato é que nas as redes sociais não há espaço para quem pensa fora do que meu algoritmo dita. 


Li também que estão execrando Madonna, a Rainha do Pop, porque ela está velha. Ue! Não seria a idade uma consequência da vida? Deveríamos morrer e apagarmos nossas histórias para não desagradar ninguém? Gostaria de poder ver a net sendo usada como realmente  deveria ser usada, para semear sabedoria e encurtar distâncias, mas todos nós conhecemos a boa intenção da bomba de nêutron. 


Politicamente correto não existe, assim como a religião não existe, assim como o que  existe é tão somente uma corrida desenfreada em busca de autoafirmação e de domínio, nem que seja domínio do algoritmo ao lado. Nessa busca vamos nos modificando, nos tornando cópias e adoecendo cada vez mais. Não sei se acredito realmente nisso, mas espero que possamos um dia quebrar esse protocolo e sair do transe, que realmente a raça humana se descubra soberana através do amor, do afeto. Utopia talvez?  Que consigamos salvar o Ícaro que habita em todos  nós saltando de vez no abismo de nós mesmo e que nosso reencontro seja breve.


O ódio está impregnado no ser humano e isto não vai mudar. Voltamos nossos olhos para o mais profundo do universo mas não estendemos a mão aos nosso irmão carente, postamos mensagens prontas para quem amamos mas estamos a quilômetros de distância para um abraço mesmo estando há apenas centímetros. 


Que lástima!



Rosinaldo Luna


11/03/2022

LançaLivros SPVA


Compartilho com voces o texto postado no Instagram sobre a live de hoje a noite que será promovida pelaSPVA/RN. Convido a todos que gostam de poesia acompanhar esse bate papo. Certeza de um ótimo programa. 


A T E N ÇÃO! POETAMIGOS E AMIGOS AFINS! 


Iniciamos hoje o nosso... *LançaLivro SPVA* !!! 


Uma conversa com os nossos escritores sobre o lançamento de seus livros.


 Aproveitaremos para falar sobre o livro, influências literárias, inspiração, processo criativo, biografia, envolvimento e caminhada SPVA/RN, dentre outros pontos de destaque do autor e do livro.


E no nosso 1° *LançaLivros SPVA/RN* teremos o professor *Eugênio Oliveira* , o qual publicou pela @oweditora . Uma pitadinha sobre o livro👇🏾


O OUTRO LIRICIZADO não é simplesmente um livro de poesias, é uma convocação para o leitor pôr, ele também 'o seu' aí. Cabe também, a autoria fluídica de sentidos, direcionada aos desfechos de cada verso, como diz o poeta:


 "continuo a buscar na metafísica

  O claro...o óbvio

  O revelado...as entrelinhas"


Quanto do outro está escrito e quanto de si revelado, quantas interrogações e quantas reticencias te convidam a interagir com o poeta? Seja a companhia esperada, o coautor disponível, a voz que falta!


Como fazer isso? Participando do *LançaLivro SPVA/RN* hoje à noite. 


Autor? 


  Eugênio Oliveira


Mediadora: 


  Ozany Gomes 


Quando? 


  11/03/2022


Onde? 


  Youtube SPVARN


I M P E R D Í V E L... 


VEMMMMMMMMMMMMM...

https://www.instagram.com/p/Ca9zccSr1rm/?utm_medium=share_sheet

06/03/2022

Aniversario ESTAÇÃO DO CORDEL.

 


O Ponto de Memória Estação do Cordel retorna suas atividades na próxima sexta-feira e sábado, dias 11 e 12 de março de 2022. Um espaço cultural plantado  no Centro Histórico de Natal há cinco anos, que fez fervilhar a arte na Praça Padre João Maria na Cidade Alta. No evento entregaremos o Certificado de Mérito Cultural Poeta Chico Traíra para pessoas e entidades que foram especiais para a nossa existência!

Aqui você viaja na arte!  Venha você também!

Confira a programação!

PROGRAMAÇÃO - 5 ANOS DE ESTAÇÃO DO CORDEL

11 março de 2022 – sexta-feira

14h – FEIRA LIVRE DE CORDEL NA PRAÇA

Exposição: Xilogravura com Letícia Paregas!

15h – Tribuna Livre d@ Poeta

16h- Samba de Roda com o Bando de Fabião

17h- Cantoria em Homenagem ao Centenário de Chico Traíra com Marcos Teixeira e Domingos Matias.


12 março de 2022 – sábado

8h ás 17h – FEIRA LIVRE DE CORDEL NA PRAÇA 

Exposição: Xilogravura com Letícia Paregas!

9h – Bate papo sobre os 5 anos da Estação do Cordel

10h – O cordel no olhar de Gutenberg Costa

11h – Contação de história com Cláudia Borges

12h – Homenagem a colaboradores da Estação do Cordel com a entrega do Certificado de Mérito Cultural Poeta Chico Traíra

14h – Tribuna Livre d@ Poeta

16h – Choro do Caçoa com a presença de Carlos Zens

17h – Slam na Praça – Rima Central


Conheça o Canal da Estação do Cordel e se inscreva! https://bit.ly/37AX1FD

23/02/2022

NA JAULA DA MONGA

ESPETÁCULO A MULHER MONSTRO 
 Por Rosinaldo Luna 



 
 Acredito que a imensa maioria das pessoas já ouviu falar da mulher monstro, a Monga dos parques de diversões, a moça que se transforma em macaco. Essa figura que eu nunca ví, mas ouvi e presenciei inúmeras vezes crianças, adolescentes e até adultos saírem correndo de dentro da jaula da fera. Nunca tive coragem de entrar ali. Tenho um verdadeiro fascínio por esse personagem, a ponto de nunca ter entrado em sua jaula. Até a última quinta feira 17//02/2022 quando fui finalmente assistir ao espetáculo da S. E. M. Cia de Teatro que faz temporada todas as quintas feiras de fevereiro no circo do Bisteca e Bochechinha. Os famosos “prints” das redes sociais foram o impulso para a construção do texto, uma colagem de falas reais de figuras públicas e de anônimos, atualizando o conto “Creme de Alface” do renomado escritor gaúcho Caio Fernando Abreu. A peça aborda os absurdos lidos e ouvidos de forma tão escancarada no dia a dia e, agora, acentuadas nos últimos tempos não só na internet. A criação do espetáculo começou em 2015, na efervescente crise política, financeira, ética e moral do país, e joga na nossa cara a intolerância, decorrente da discriminação vista e sentida no convívio social. Durante pouco mais de uma hora, o ator José Neto Barbosa domina totalmente uma plateia hipnotizada com seu personagem patético, ridículo, preconceituoso, xenofóbico, homofóbico apesar de “ter amigos gays”. Negacionista convicta, se entope de cloroquina, é contra as cotas, contra os programas sociais, contra tudo que não a beneficie e garanta seus mimos de madame fútil. Aponta, condena a morte, aponta arma para os menos favorecidos e minorias e tudo isto com uma bíblia nas mãos e em nome da honra e da família. Alguem já presenciou uma cena com um personagem assim? O espetáculo começa com a monga algemada por correntes em uma jaula. Apesar de nunca ter estado na jaula do monstro, creio que o processo se dá ao inverso, no parque a mocinha se transforma em monstro na peça o monstro se transforma em uma mulher cis, loira artificial, e muito mais monstruosa que o próprio monstro que a aprisiona. Escrita pelo próprio José Neto Barbosa, esse jovem ator potiguar que tem hoje destaque nacional tendo ganhado os mais importantes prêmios do teatro brasileiro, inclusive com o Prêmio de Melhor Monólogo Nacional pela academia de artes do teatro no Brasil e melhor ator e melhor espetáculo pelo Festival Internacional Janeiro de Grandes espetáculos onde recebeu o prêmio COOPERGÁS. 
 Polêmico, o espetáculo teve problemas em vários lugares por onde passou. No festival de teatro de Curitiba foi proibido de ser apresentado no espaço oficial do evento, porém, se apresentou na rua, nas ruinas históricas, de forma gratuita e teve recorde de público. Em Pernambuco o ator foi apedrejado por militantes bolsonaristas que invadiram o local da apresentação e atiraram pedras contra os artistas. Mesmo assim, eles não desistiram.

José Neto Barbosa

Depois da chegada aterradora da pandemia, como todos os artistas, a companhia entrou em recesso forçado só retomando as atividades ano passado, cumprindo todos os protocolos de biossegurança, com público reduzido para garantir o mínimo de risco para quem vai assistir. Fazer um monólogo é uma experiência única, depois de pisar no palco o ator está só, como um barco à deriva. É preciso muita segurança para que o texto seja conduzido, que o ator consiga prender a atenção da plateia e A Mulher Monstro é um dos mais complicados, técnicos e difíceis textos que já vi. O personagem instável, oscila entre lagrimas e gritos de ódio, comicidade e angustia, tudo isso aliado a luz, ao improviso, a interação direta com a plateia num jogo de troca de textos que só um grande ator pode dominar além da cena em si. A jaula onde o ator está aprisionado é uma das soluções cênicas mais opressoras que já presenciei. Confesso que em certos momentos cheguei a sentir pena daquela mulher tão presa, tão tolhida até de pensamentos. Aquela jaula parecia esmagar os ossos da daquele ser que mesmo berrando palavras de ordem e ódio, me parecia um ratinho indefeso diante da força do seu predador. Tiro meu chapéu para o José Neto. Técnico sem esquecer a emoção, seguro, objetivo e consciente do que quer dizer e falar. Me impressionou em uma das cenas mais fortes quando a mulher chora, que ficamos, as pouco mais de cem pessoas da plateia; sim, o público é reduzido, estáticos, no mais profundo silêncio por quase cinco minutos. Aquele ator nos acorrentava com os olhos. Tinha medo de respirar alto e ser atacado por aquele ser tão visivelmente instável. Depois desse tempo, esperando o que viria depois, aquela mulher que esbravejava, gritava, xingava e ofendia se desmancha em pranto diante de nós. Ela indefesa em sua prisão e do lado de cá, todos nós, incapazes de fazer alguma coisa, igualmente presos e oprimidos em nossos traumas e frustrações. Na realidade, estamos nós também aprisionados em nossas jaulas, sejam filosóficas, sejam ideológicas, religiosas, sociais. Estamos todos presos e imobilizados por nossos próprios monstros. Todos nós temos uma monga dentro de nós. Monstros impostos por padrões e regras sociais que são criadas para dominar e aprisionar. 
Tenho muita admiração pelos atores. Tenho ainda mais admiração pelo ator José Neto Barbosa e por tudo que ele representa para o teatro potiguar. Ainda dá tempo de conferir. Bom espetáculo a todos. 

Rosinaldo Luna 

 SERVIÇO: Espetáculo Teatral A Mulher Monstro 
Dias: 03, 10, 17 e 24 de fevereiro 2022 (quintas-feiras) 
Horário: 20:00h 
Local: Estacionamento do Shopping Cidade Verde – Circo Bisteca e Bochechinha Endereço: Av. Ayrton Senna, 1995, Nova Parnamirim 
Classificação indicativa: 16 anos 
Ingressos: Na bilheteria ou pelo 
Simpla: https://www.sympla.com.br/a-mulher-monstro-no-circo__1466906