17/12/2010

Tombamento do Centro de Natal


Tombamento do Centro de Natal

A tribuna do norte do dia 16/12/2010 trouxe uma matéria sobre o tombamento do centro histórico de Natal. Um importante passo para a preservação, mesmo que tardia da nossa memória arquitetônica. Leiam parte da matéria transcrita para esse blog. O texto é da reporter Luana Ferreira
 
O melhor e mais precioso livro da história de Natal, o Centro Histórico foi finalmente tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na última quinta-feira. Virou tudo patrimônio cultural brasileiro, como o Recife Antigo, em Recife, e o Centro Histórico de São Luiz, só que com muitos anos de atraso. Com o tombamento, as ruas, ruelas, becos, casas, igrejas, calçadas, praças, linhas férreas, porto, iluminação e os 550 prédios que deram forma, cor e alma a parte da Ribeira, Cidade Alta e Rocas nos últimos quatro séculos não poderão mais ser modificados de maneira aleatória. A festa de Sant´Ana, em Caicó, foi registrada como bem cultural imaterial.
Mesmo em péssimas condições, prédio do antigo cabaré Arpege, na Ribeira, foi tombado pelo Iphan
O dia, considerado histórico por arquitetos e pesquisadores de Natal, passou despercebido pela maior parte dos potiguares, apesar do trabalho de esclarecimento que o Iphan vem realizando nos últimos meses. “Aquilo é um livro aberto, as ruas, as casas estão contando a história da cidade”, comemorou o arquiteto Haroldo Maranhão, chefe do departamento de patrimônio cultural da Funcart. Quando informados pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE, os comerciantes e moradores do local demonstraram mais preocupação com as reformas que poderiam não acontecer nas propriedades deles do que curiosidade com o futuro do Centro Histórico. Essa é a primeira vez que um tombamento em conjunto é realizado no Rio Grande do Norte, e a quinta   que a esfera federal reconhece um patrimônio em Natal: os outros são a Fortaleza dos Reis Magos, o Sobradinho (Museu Café Filho), 13 imagens de santos que pertencem à Arquidiocese de Natal e a Pinacoteca do Estado. Os argumentos usados pelo Iphan foram a necessidade de preservação do traçado das ruas, que sobreviveu à vinda dos carros e outras mudanças, e a heterogeneidade da arquitetura.

De acordo com um estudo feito pelo Iphan, cerca de metade dos 550 imóveis tombados em conjunto estão descaracterizados ou foram substituídos por edificações contemporâneas. A outra metade conta nossos quatro séculos de história.

Há dezenas de imóveis reconhecidos pela prefeitura do Natal e Governo do Estado como patrimônio cultural nos últimos anos, mas isso não quer dizer que venham sendo tratados como jóia rara: muitos estão em ruínas, em Natal e no interior.  Um exemplo emblemático é a casa do ex-prefeito de Natal Djalma Maranhão (na esquina das ruas Afonso Pena e Jundiaí): apesar de tombada, já está tão descaracterizada que já se fala em “destombá-la”. A pergunta é imediata: isso vai mudar alguma coisa?

15/12/2010

Rabiscos de giz na calçada áspera.

No amanhecer o amor,
Para o poeta a dor,
Combustível de meus traços,
Como rabiscos de giz na calçada aspera.

Ao meio dia uma rede,
E a visão da amada, 
Cabelos ao vento
Molhada de desejo 
De mim.

Ao anoitecer uma brisa
Traz o perfume de tí.
Uma caricia entre os dedos
Dos teu cabelo com cheiro, perfume de mim.

E ao deitar solidão
Inspiração de poeta,
Uma janela aberta
E uma lua só pra mim.

Para sonha só voce
Minha mais bela imagem
E um coração lá no alto
além das nuvens, voando,
e acenando para mim.

Rosinaldo Luna
12/2010.

12/12/2010

Esses seres maravilhosos e suas criações emocionantes.




Estamos iniciando uma nova série de conversas. Depois dos papos sobre produção teatral iniciaremos a partir de agora algumas conversas sobre alguns artistas da terra. Aqui quero deixar impresso para vocês conhecerem ou poderem opinar sobre meu ponto de vista particular, afinal, como não se trata de um blog jornalístico, me reservo o direito de rasgar toda a seda que me é de direito. Quero colocar minha opinião, apaixonada sobre aqueles artistas que estão em evidência, ou os que estão à margem dos GRUPOS, e que como eu, sentem dificuldade em fazer parte do mitiê, do cenário cultural do estado, mas que produz o ano inteiro e vivem da sua produção de maneira digna e profissional. Nesse leque de atores, cantores, bailarinos escritores etc... Onde constam nomes como, Hilton Lopo, Barbara Cristina, Maria Di Lia, Pedro Queiroga. Novos artistas que queiram conversar conosco sobre sonhos expectativas de carreira etc. Espero que vocês gostem e curtam essas conversas. Mas por favor, comentem, pois ó assim saberei se estão curtindo ou não. É importante a opinião de vocês sobre os artigos e se quiserem pode sugerir novos artigos sobre assuntos diversos que irei atrás e certamente dará uma boa movimentada no blog. Abraços artísticos e boa leitura a todos.
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Rosinaldo Luna.

Um Noel sereno e tranquilo.

Quem conheçe o ator Hilton Lopo sabe muito bem que ele está longe de ser um cara tranquilo. Ao contrario, Hilto é uma pessoa acelerada e as vezes estresada demais. Mas hoje á tarde fiquei um bom tempo observando o cara na maior entrega ao seu pesonagem de todo Natal, O Papai Noel. Fotos, choros, beijos, abraços, pedidos, recados, sorrisos, crianças no colo, mamães, papais tirando fotos... Ufa! Papai Noel sua o roupão! Mas nosso personagem continuou lá, incólume, sereno e tranquilo, por baixo de vários quilos de cabelos e roupa de veludo.Isso é que significa entrega, doação ao personagem.
Um dia ofereceram um papel pequeno pro Hilton Lopo e alguém falou assim: "Você vai aceitar esse papel?" E o Hilton na mior simplicidade respondeu: "A mim não imorta o tamanho do personagem eu sou um ator e esse é um personagem. Os artores imterpretam personagens" e fez o espetáculo.Isso mostra como é bonita a cumplicidade do artista com sua arte. Hoje os atores não tem mais o compromisso com a arte em sí, porém com o fator financeiro. Claro que é preciso trabalhar e receber, mas a arte está muito comercial e nenhum ator, ou poucos atores se dignam a trabalhar pelo aplauso. O Hilton acredito é capaz disso. Mas a tranquilidade com que veste o Noel é linda de se ver. Quem quiser conferir vá lá no Miadway e confira.
A trajetória do Hilton Lopo vem de vários anos, desde o antigo teatro Jesiel Figueredo no alecrim onde  já atuava e era  do elenco permanente do Jesiel. Um excelente ator, um grande colega e um serenissimo Papai Noel.

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Rosinaldo Luna

07/12/2010

Me queiras




Um beijo roubado de mim
Um sorriso negado
Um amor magoado de ser
Um abismo sem fim entre nós.

Que me queiras assim
Sem roubar o seu beijo
Sem abismos, sem medos
Só desejo, desejo.

Rosinaldo Luna
12/2010.

05/12/2010

Teatro na Escola

O artigo a seguir é de autoria do teatrologo Emílio Carlos a quem apartir de agora vou me dedicar a ler e a acompanhar seus ensinamentos. Quero deixar calro que antes de tudo, o respeito ao autor deve estar em primeiro lugar. Mas voces pdoem falar: como blogou o artigo do rapaz aqui? Bem, o artigo está disponivel gratuirtamente na net, mas isso não me dá o direito de blogar sem dar as referências. Quero agradecer ao autor por poder oferer para todos voces uma leitura tão bão e importante  para nós artistas que utilizamos sempre o teatro escola para a formação de platéia.

A importância do Teatro na Escola
por Emílio Carlos de




- Principais benefícios do teatro aos jovens estudantes

O teatro desperta a imaginação, leva ao questionamento de atitudes e realidades, faz sonhar e educa. Ver uma peça de teatro é uma experiência inesquecível. Fazer teatro é uma experiência única!


- Como o teatro pode estar presente na escola?

É comum pensarmos que teatro é para a aula de Artes. Porém todas as disciplinas tem o seu lado dramatúrgico. Imagine os alunos lerem um livro e depois encená-lo. Ou dramatizarem uma situação matemática do dia a dia. Ou encenarem um acontecimento da história.
Tudo é possível em termos de teatro; inclusive projetos que incluam várias disciplinas ao mesmo tempo.



- Em relação ao aspecto pedagógico, qual a importância do teatro para o desenvolvimento do aluno? O que o aluno pode aprender nestas aulas, que o ajudará em sua formação como pessoa?

Desde o aspecto lúdico até o processo de ensino-aprendizagem, o teatro é uma grande ferramenta nas mãos dos educadores. O aluno vai aprender a importância do trabalho em grupo, da participação ordenada, de conhecer e confiar em quem trabalha com ele. Além disso o teatro estimula a criatividade e a imaginação, a iniciativa, o respeito mútuo, a desinibição e a sensibilidade. Tudo isso fará diferença na sua formação.


- Além de ajudar na evolução de várias áreas, como na coordenação, na criatividade, na memorização, no vocabulário e na socialização, o teatro não é feito apenas de atores em cena, isto é, no palco. Há muitos alunos que também atuam “nos bastidores”, na estrutura por trás do espetáculo. O que os alunos podem aprender com isso? Organização? A importância do trabalho em equipe?

Quem trabalha nos bastidores percebe tudo isso e mais: ele passa a ver que todos são igualmente importantes para que o espetáculo aconteça. Não importa se você está no palco ou se está na iluminação – todos são igualmente importantes. Também aqui o teatro reproduz a vida: para obtermos um resultado precisamos de várias pessoas envolvidas. O coletivo se impõe ao individual. No teatro da vida cada um desempenha o seu papel, tal como as diferentes partes de um corpo, para benefício de todos.


- Dicas de como é possível inserir o teatro na escola.

É possível inserir o teatro em qualquer disciplina, e em projetos multidisciplinares. O teatro enriquece a experiência com os temas tratados nas disciplinas. Por exemplo: para trabalhar a preservação do meio ambiente você pode montar uma exposição que vai apresentar o tema ao visitante e que culmina com uma peça teatral como forma de vivenciar o tema. As datas comemorativas também fornecem boas oportunidades para se fazer teatro na escola.



- Cuidados/estrutura que a escola precisar tomar/ter no momento de inserir o teatro como disciplina ou como aula extracurricular

O primeiro cuidado é com quem vai ensinar teatro na escola. Essa pessoa precisa reunir conhecimentos em arte e educação ao mesmo tempo. E ter intimidade com a faixa etária com a qual se vai trabalhar. Não basta ser ator para ensinar teatro.
Toda a beleza do teatro está na imaginação, no pacto que existe entre o público e o espetáculo. O público sabe que é uma peça, que o cenário é apenas cenário mas o teatro tem a magia de fazer sonhar. Assim um pano azul se transforma no mar, uma spot de luz amarela pode ser o sol, e tudo isso só depende dos atores interpretarem bem.
As crianças são atores em potencial: elas são altamente imaginativas. Só precisam de quem canalize sua imaginação. O jovem já está numa fase mais racional e para levá-lo à emoção da personagem você precisa fazer com que ele entenda o papel.
Você não precisa de grandes estruturas nem de muito dinheiro para fazer teatro. Material reciclado dá grande resultado visual para cenários, material de cena e figurinos. Há também o TNT (tecido-não-tecido): uma opção barata e acessível.
Sempre que possível deixe os próprios alunos fazerem os cenários e os figurinos, ou pelo menos colaborarem na idealização e realização. Isso faz parte do desenvolvimento cognitivo e deve ser estimulado.
Lembre-se sempre que o grande espetáculo para o público está nos atores e o grande espetáculo para os alunos está em fazer teatro. Assim um holofote de fachada de casa (com 150 watts) se transforma num canhão de luz do teatro; vasos formam um jardim; EVA se transforma em máscaras, roupas, material de cena.
Você não precisa de um auditório com cadeiras estofadas para fazer teatro; você pode fazer teatro na sala de aula, no pátio, ao ar livre. A estrutura necessária é mínima.
Tenha em mente que uma produção precisa ser LM-PRB: linda, maravilhosa prática, rápida e barata. Com pouquíssimo dinheiro e muita criatividade você pode fazer muito.


-        O motivo da falta de hábito do brasileiro de não ir ao teatro com frequência é que muita gente não conhece teatro. Muitos nunca viram uma peça teatral na vida. Por isso é importante estimular crianças e jovens desde cedo a verem teatro, a fazerem teatro. É importante levar o teatro até o aluno. Assim se forma o público que irá ao teatro no futuro. Quando a minha Cia de Teatro se apresentava em escolas era comum os alunos dizerem:- “Eu achava teatro chato; mas agora que eu vi sua peça eu achei legal”.


Sobre o Autor - Emílio Carlos é diretor, ator e dramaturgo. Trabalha com teatro desde 1985, fazendo teatro adulto e infantil, com crianças e com bonecos. Já dirigiu vários grupos e cias de teatro, se apresentando pelos Estados de SP e MG (inclusive tendo feito várias temporadas em São Paulo – Capital).
A coleção Memória do Teatro de Bonecos traz 5 de suas peças teatrais. A Coleção em Dvd foi lançada pela Editora Emílio Carlos e pode ser vista no site:

PRODUÇÃO TEATRAL - SÉTIMA CONVERSA


  SELEÇÃO DE ELENCO

Pois é galera. Já somam sete conversas, espero que estejam sendo úteis. Durante esse tempo de envolvimento com o fazer teatral, um dos problemas encontrados é o elenco. Nós ainda não temos a política da imparcialidade, confesso que também pratico o paternalismo, e é comum essa pratica. Mas é preciso que os profissionais comecem a tratar o assunto de maneira mais profissional. Claro que para o diretor é confortável trabalhar com amigos. Isso torna o trabalho mais interessante, porém, cria-se com isso uma ilha de exclusão, e limita o mercado a trabalhar sempre com os mesmos elencos.
Esses grupos estão aí há muito tempo. Sempre as mesmas pessoas contratando as mesmas pessoas. Claro, que todos os personagens dessa discurção estão lá por talento, porém, existem outros talentos que não conseguem aparecer no mercado por não fazer parte desses grupos.
Outro dia, conversando com uma pessoa ligada ao movimento em Natal, perguntei sobre a contratação de pessoas para um famoso festival de teatro e a mesma me falou que não quer ninguém além das que já estavam lá. Que o grupo funciona e que não quer mudar nada. Tudo bem fiquei calado, porém acho que esse grupo deixa de adquirir elementos novos para o processo.
A prática de grupos prejudica muito o movimento cultural da cidade. Se o profissional não estiver nos grupos trabalho perdido, não entra em processo nenhum. Isto sinto na pele, se dependesse dos movimentos estaria morto, mas graças a Deus não me enquadro nessa condição. Claro, às vezes fico triste, pois sei da qualidade do meu trabalho, porém não posso forçar ninguém a contratar meus serviços. Agora é chato você ver pessoas que não tem a mesma experiência que um bom ator atuando em todas as montagens simultaneamente, enquanto outros muito melhores preparados ficando de fora. Uns fazendo vitrines natalinas, ou frente de lojas para complementar o orçamento.
Portanto, o ideal para o sucesso de um projeto é o critério de seleção de elenco. Deve-se contratar o profissional por currículo, ou por convite, portanto que esse profissional esteja dentro do perfil do personagem e não por se amigo, assim, corremos o risco de contratar um bom ator e queimá-lo por não estar inserido no biótipo do personagem para o qual foi contratado para fazer.
A seleção deve ser imparcial e o diretor juntamente com uma equipe de profissionais capacitados escolherá o elenco que representará o espetáculo. Uma boa produção está acontecendo em Natal, no que se refere a seleção imparcial. O musical Beco da Alma de Claudia Magalhães tem direção de Danilo Guanais e João Marcelino. E seguiu um esquema de seleção muito boa. Primeiro a seleção de currículos, segundo a primeira audição e depois a segunda, onde foi selecionado o elenco. E não houve proteção, nem preferências, atores amigos dos diretores foram desclassificados por detalhes, como a foto exigida na inscrição.
Essa postura da equipe do musical me deixou orgulhoso. E sugiro a todos vocês que se espelhem nesse exemplo. Não levem em consideração os laços de amizade apenas, contratem amigos profissionais e não profissionais amigos. Você pode até deixar algum colega chateado, porém, se você contrata um profissional por amizade corre o risco de perder os dois, o profissional e o amigo.


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Rosinaldo Luna.

04/12/2010

FULANA, SICRANA E BELTRANA. Paulo Sacaldassi.












O Texto aqui editado não pode ser montado sem autorização do autor.
Qualquer interesse em montá-lo, entrar em contato através do e-mail e telefone que constam logo abaixo da relação de personagens.


Rosinaldo Luna



FULANA, SICRANA E BELTRANA
Texto de: PAULO SACALDASSY

PERSONAGENS 

FULANA
SICRANA
BELTRANA










TEL.: (13) 3233-5720


CENÁRIO:APARTAMENTO DE CLASSE MÉDIA, DOIS SOFÁS DE ESTAMPA NÃO MUITO CONVENCIONAL, UM TAPETE FELPUDO ENTRE OS SOFÁS E SOBRE ELE UMA MESINHA. ALGUMAS PLANTAS ARTIFICIAIS, ALGUNS QUA-DROS, PORTAS-RETRATOS ESPALHADOS EM CIMA DO MÓVEL DA TV E EM DUAS MESINHAS DE CANTO, UM VASO E DUAS ESTÁTUAS DE GESSO. UMA PORTA QUE LEVA AO INTERIOR DO APARTAMENTO E OUTRA QUE INDICA A ENTRADA.
AO ABRIR AS CORTINAS, FULANA ESTARÁ VESTIDA DE ROUPAS SIMPLES, COM OS CABELOS PRESOS EM UM COQUE MEIO DESPENTEADO, FAZ A FA XINA DA SALA.
Fulana           - Empregada é fogo mesmo! É sempre assim, quando a gente pre-cisa delas, elas sempre deixam a gente na mão! Agora veja só em que ponto che-gamos! Eu, uma mulher malhadíssima, elegantérrima, fazendo faxina! Vê se po-de? Também, a culpa é minha mesmo, quem mandou marcar o encontro com as amigas aqui? É impressionante! Não sei que tanto aquela empregada diz que lim-pa! Já estou aqui a tarde inteira e onde eu mexo tem pó!... Olha só isso!...
FULANA VARRE O TAPETE, E QUANTO MAIS VARRE, MAIS SUJO ELE FICA.
Fulana           - Amanhã ela me paga! Vai ter que me explicar tudo direitinho!... Pre-ciso acabar logo com isso, daqui a pouco minhas amigas chegam, eu aqui, de do-méstica! O que elas vão pensar de mim? Falando nelas, como será que elas es-tão? A gente era unha e carne!... Mais uma coisa aposto! Duvido que tenham que  ficar fazendo faxina no lugar da empregada!... Mas, você vai me pagar, viu  Rosi-cleide!...  Amanhã a gente vai conversar direitinho!...
TOCA O INTERFONE.
1.     
Fulana           - Será que são elas? Tudo do avesso ainda! Com que cara eu vou receber minhas amigas? Rosicleide, Rosicleide, você me paga!
O INTERFONE TOCA OUTRA VEZ.
Fulana           - Já vou!... Que saco!
FULANA JOGA A VASSOURA NO CHÃO E SAI PARA ATENDER. PÕE MEIO CORPO PRA DENTRO DA PORTA QUE LEVA AO INTERIOR DO APARTAMEN- TO.
Fulana           - Quem é?... Pode mandar subir!
FULANA  VOLTA  E  TENTA  DAR  UM JEITO NA SALA. ALGUNS OBJETOS ES-TÃO FORA DE LUGAR.
Fulana           - Droga!... Vou dar um jeito qualquer! Qualquer coisa eu dou uma desculpa! Acho que elas não vão nem reparar!
TOCA A CAMPAINHA.
Fulana           - Só um minutinho!
FULANA SE ATRAPALHA TODA COM OS OBJETOS.  A SALA FICA UM POUCO EM DESORDEM.
Fulana           - Já tô indo!
TOCA A CAMPAINHA DE NOVO. FULANA SE AJEITA E ABRE A PORTA. EN-TRA SICRANA.
Fulana           - Desculpa a bagunça!... Você é a...
Sicrana         - Você avisa sua patroa que a amiga dela chegou!
Fulana           - Mas quem é você?
Sicrana         - Como tem empregada enxerida nesse mundo, hein? Vai lá e avisa que a Sicrana chegou!
2.     
Fulana           - Sicrana?
Sicrana         - É!... Algum problema?
Fulana           - Sicrana, sou eu!... Tô tão ruim assim?
Sicrana         - Fulana?! Desculpa!! É que...
Fulana           - A desgraçada da minha empregada me deu o cano e eu tava ten-tando dar um jeitinho nisso aqui!
Sicrana         - Não se incomoda! Eu é que acabei chegando cedo demais! Me des culpe!
Fulana           - Mas, senta! Tudo bem? Você quer beber alguma coisa?
Sicrana         - Não, obrigada!
Fulana           - Uma água! Um suco!
Sicrana         - Já falei que não precisa se incomodar!
Fulana           - Então senta!
FULANA EMPURRA SICRANA PRA SENTAR NO SOFÁ.
Sicrana         - Aaaaaaaiiiii!!!!!!
Fulana           - Que foi? Ai, meu Deus! O que foi que eu deixei aí?
SICRANA TIRA DEBAIXO DE SI, UMA PÁ DE LIXO.
Fulana           - Ai Sicrana, me desculpa! Fui atender a porta e acabei jogando a pá no primeiro lugar que eu encontrei!
Sicrana         - Tô vendo que arrumar casa, não é o seu forte, né?
Fulana           - Nem me fale! Gosto de tudo limpinho, mas eu tenho horror de faxi-na!
Sicrana         - Deixa isso pra lá! Nós somos amigas, lembra?
Fulana           - Então eu vou buscar alguma coisa pra você beber!
3.     
Sicrana         - Depois!
Fulana           - Então depois, a gente vai beber um vinho! Pode ser?
Sicrana         - Claro! Afinal de contas, isso é uma festa de reencontro, é ou não é?
SICRANA E FULANA SENTAM-SE EM UM DOS SOFÁS.
Fulana           - Como você está elegante, hein?
Sicrana         - Que nada! Isso é roupa de trabalho. Você sim! Apesar desse mode-lito, dá pra ver que você está bem bonita.
Fulana           - E que você anda fazendo da vida?
Sicrana         - Trabalhando feito uma louca! E você?
Fulana           - Virei administradora!
TOCA O INTERFONE. FULANA LEVANTA-SE PARA ATENDER.
Sicrana         - Que bom! O que você administra?
SICRANA ANDA PELA CENA.
Fulana           - Esse corpinho aqui! Você acha que é fácil manter a forma na nossa idade?
Sicrana         - Você não tem jeito! Até hoje não perdeu a mania de manter o corpo em cima!
Fulana           - Agora, mais do que nunca! Mas, você trabalha com o quê?
Sicrana         - Sou psicóloga! E você, tá casada?
FULANA COLOCA MEIO CORPO PARA DENTRO DA PORTA QUE VAI AO IN-TERIOR DO APARTAMENTO E ATENDE O INTERFONE.
Fulana           - (EM OFF) Pode mandar subir, seu Zé! (FULANA ENTRANDO) Hoje sou uma separada negociando o valor da pensão com o desgraçado do meu ex- marido!
4.     
Sicrana         - Você também se separou?
Fulana           - Também por quê? Você também?
Sicrana         - Nem me fala! Ainda não assimilei o golpe!
Fulana           - Pra falar a verdade, nem eu!
SICRANA SENTA-SE NO OUTRO SOFÁ.
Sicrana         - Ai! Que é isso?
SICRANA TIRA DEBAIXO DE SI UM VIBRADOR.
Fulana           - Não te disse que ainda não assimilei o golpe!
Sicrana         - E, resolve?
Fulana           - Pra falar a verdade, nem usei ainda! Comprei depois que me sepa-rei... Mas, deixa eu guardar isso aqui!... Que vergonha!
Sicrana         - Que nada, menina, relaxa!
FULANA ENTRA PARA GUARDAR O VIBRADOR. TOCA A CAMPAINHA.
Sicrana         - Quer que eu atenda?
Fulana           - (EM OFF) Pode deixar que eu tô indo!
TOCA NOVAMENTE A CAMPAINHA. FULANA ENTRA.
Fulana           - Não vai contar nada para Beltrana, hein?
Sicrana         - Sobre o brinquedinho? Não, pode deixar!
TOCA A CAMPAINHA OUTRA VEZ.
Fulana           - Só um minutinho!
Sicrana         - Como será que está a nossa amiga, hein?
Fulana           - Vamos ver agora!
FULANA ABRE A PORTA. ENTRA BELTRANA.
Beltrana        - Oi, querida! Quer avisar sua patroa que a Beltrana chegou?
5.     
Fulana           - Você também, Beltrana? Sou eu, a Fulana!
Beltrana        - Desculpa! Não esperava encontrar você assim!
Fulana           - Culpa da minha empregada! Mas, amanhã eu acerto as contas com ela!
Beltrana        - Tô vendo que apesar do figurino, você ainda tá bem, hein?
Fulana           - Você não sabe o trabalho que dá! Mas, entra!
Sicrana         - Oi Beltrana, como vai? Quanto tempo!
Beltrana        - Sicrana, que saudades!
Sicrana         - Como a gente pôde ficar tanto tempo sem se ver, hein?
Beltrana        - É mesmo! Você também tá bem... elegante!...
Fulana           - Vocês me dão uma licencinha? Eu vou lá dentro trocar de roupa!   E podem ficar a vontade!
FULANA VAI PARA DENTRO TROCAR DE ROUPA.
Beltrana        - Mas, me diz: O que você achou dela?
Sicrana         - Acho que continua a mesma de sempre! E você?
Beltrana        - Ela parece estar bem... Mas, me conta, menina: O que você faz da vida?
Sicrana         - Sou psicóloga! E você?
Beltrana        - Sou empresária!... Eu lembro que você sempre quis mesmo ser psicóloga.
Sicrana         - Quantas vezes eu tive que aturar vocês, não é verdade? A Fulana roubava teu namorado, lá vinha você chorar as mágoas. Quando você dava o troco, lá vinha a Fulana chorar as mágoas dela...
Beltrana        - E quando era você que roubava o namorado da gente, você  sumia,
6.     
não é, sua safadinha!
Sicrana         - Aí, era questão de sobrevivência, queridinha!
Beltrana        - E você? Tá casada, tá solteira, tá enrolada, tá o quê?
Sicrana         - Casei, mas, acabei de me separar! E você?
Beltrana        - Eu também, nunca tive sorte com os homens...
Sicrana         - Como é falsa!
Beltrana        - É verdade!
Sicrana         - Vai dizer que você nunca casou?
Beltrana        - Não é isso! Casar eu casei, aliás, estou no quarto casamento!
Sicrana         - Quarto?
Beltrana        - Só que acho que esse último não vai durar muito!
Sicrana         - Por quê?
Beltrana        - Não tem nem seis meses que a gente tá junto, e ele já está  botan-do  as  asinhas de fora!
Sicrana         - Acho melhor a gente mudar a conversa! Eu tô com homem por aqui, ó!
BELTRANA ANDA PELA CENA. MEXE EM TUDO.
Beltrana        - Tudo bem,  afinal  de contas, a gente veio aqui pra matar a saudade dos velhos tempos.
Fulana           - (EM OFF) Só mais um minutinho, tá?
Sicrana         - Não se preocupa!
Beltrana        - Mas, vê se não demora!... Olha isso, Sicrana! Que coisa mais cafo-na! Pra falar a verdade, achei a decoração toda, uma cafonice só! Olha as estam-pas do sofá!...
7.     
Sicrana         - Que língua venenosa, hein?
Beltrana        - Não é veneno, é bom gosto mesmo! Nunca vi tanto mal gosto junto!
TOCA O TELEFONE DE SICRANA.
Sicrana         - Dá licença!... Alô!... Quem é?... Desculpe, mas agora não posso atender!... Pode ser!.. Logo cedo eu tenho um horário pra você!
Beltrana        - Problemas?
Sicrana         - Um paciente! Mas, deixa pra lá!... Hoje temos muito o que falar!
Beltrana        - Temos mesmo!
FULANA ENTRA NA SALA COM UMA TOALHA ENROLANDO O CORPO E OU-TRA, OS CABELOS. TRAZ UM BANDEJA COM ALGUNS CANAPÉS.
Fulana           - Vão beliscando esses canapés, enquanto termino de me trocar!
Beltrana        - Não precisa se preocupar!
Sicrana         - Vai se trocar logo, que a gente tem muito pra tricotar!
Fulana           - E você, Beltrana? Não vai dizer que também faz parte da turma das separadas como a gente?
Beltrana        - Já fui! Mas, hoje estou casadinha de novo!
Sicrana         - Mas, não por muito tempo, não é?
Fulana           - Que isso, já tá de olho no marido da outra, Sicrana?
Sicrana         - Eu não!
Fulana           - E quanto tempo de casamento?
Beltrana        - Com esse?
Fulana           - Como assim, com esse?
Sicrana         - É que nossa amiga gosta muito de casar!
Fulana           - Verdade?
8.     
Beltrana        - Ela fala isso, só porque estou no quarto casamento!...
Sicrana         - Você tá assim, só pra matar a gente de inveja, né sua exibida!
Fulana           - Ah! Desculpe! É que sou um pouco distraída! A conversa tava fi-cando tão boa que... Vou terminar de me arrumar! É rapidinho!
FULANA VAI AO INTERIOR DO APARTAMENTO.
Sicrana         - Você não viu mais ninguém daquele tempo?
Beltrana        - Uns tempos atrás eu encontrei uma ou outra, mas depois, perdi o contato também!
BELTRANA LEVANTA E COMEÇA A TROCAR AS COISAS DE LUGAR.
Sicrana         - Não mexe nas coisas dela!
Beltrana        - Ai, não agüento! Vou tentar dar um jeito nisso! Me dá coceira ver tanto bagunça e tanta coisa fora do lugar!
Sicrana         - É que a empregada dela não veio hoje!
Beltrana        - Podia então ter marcado em outro lugar! Um barzinho, por exemplo!
Sicrana         - Dá um desconto, vai! Vai dizer que você não adorou a idéia do en-contro?
Beltrana        - Quando a Fulana me convidou, não pensei duas vezes, aceitei na hora! Mas, se eu soubesse que ia encontrar isso!...
Sicrana         - Você não muda! A mesma implicante de sempre!... Vê se relaxa!
Beltrana        - Vou tentar!
BELTRANA SENTA-SE EM UM DOS SOFÁS.
Sicrana         - Se fosse hoje, a gente ia ser conhecida como as meninas super-poderosas! A gente não era fácil, lembra?
Beltrana        - Claro que lembro!... Meninas eu não sei, mas que a gente ainda po-
9.     
de ser poderosa, isso pode!
Sicrana         - Será?
TOCA NOVAMENTE O TELEFONE DE SICRANA.
Sicrana         - Alô!... Ah, é você?... Faz um favor?... Amanhã, tudo bem!... E vê se não me liga mais!...
Beltrana        - O Cara deve tá com um problemão, hein?
Sicrana         - Acho que eu é que estou ficando com um problemão!
Beltrana        - Mas, acho que você tava certa. A Fulana aí, continua igualzinha, igualzinha! Até hoje não perdeu aquele ar sexy dela, né? Meia perua pro meu gosto, porque essa coisa de se mostrar só chama homem, mas pra segurar, tem que ser ali, os dois, as quatro paredes...
Sicrana         - E você continua a mesma, morre de inveja da Fulana!
Beltrana        - Inveja o quê! Eu sempre fui muito mais eu!
Sicrana         - A gente se conhece, esqueceu Beltrana?
Beltrana        - Eu mudei, querida! Faz mais de vinte anos que a gente não se vê! Você não sabe nem um capítulo na minha vida!
Sicrana         - Claro que não! Mas ninguém muda a personalidade, sabia?
Beltrana        - É mais você sempre foi menos comportada do que hoje!
Sicrana         - Você sabe que eu sempre fui reservada! Mas que você tinha inveja da Fulana, todo mundo sabia!
Beltrana        - Não era inveja!  Eu só não gostava de como ela se exibia pr’os garotos?
Sicrana         - Mas, você também não ficava atrás!
Beltrana        - Eu era natural!
10.  
Sicrana         - Todos nós eramos naturais!
ENTRA FULANA, ROUPAS DE GINÁSTICA (CALÇA E TOP) REALÇANDO O SEU CORPO ENXUTO.
Fulana           - Pronto! Agora é pra valer! Podemos começar a tricotar!
Beltrana        - Vai pra ginástica?
Fulana           - Não, por quê? Ah... É essa roupa? Eu vivo assim! A gente não vai sair, vai? Então?...
Sicrana         - Você é uma despeitada, Beltrana! Queria eu estar com um corpo assim!
Fulana           - Horas de esteira e quase nada de comida! Um sacrifício! Vocês nem imaginam!... Administro meu corpo, lembra Sicrana?
Beltrana        - É fogo a luta contra o tempo!
Fulana           - Você quem diga, hein?
Beltrana        - O que você quer dizer com isso?
Fulana           - Só fiz um comentário!... Não pode?
Sicrana         - Vocês continuam iguaisinhas! Parece que foi ontem que a gente se encontrou pela última vez!
Fulana           - Ainda bem que tudo parece estar no seu lugar, não é mesmo? Mas, eu quero saber de tudo! Filhos, maridos, fofocas...
Sicrana         - Eu já te falei! Tem seis meses que me separei! Aquele tonto do meu ex, me trocou por outra!... Só tem uma coisa que me intriga, pelo que fiquei sabendo, ela não é nenhuma garotinha... Falaram que ela tem assim a nossa idade!
Beltrana        - Ser trocada por alguém da mesma idade que a  nossa  é  realmente
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muito preocupante. Ficaria muito frustrada se isso me acontecesse!.
Fulana           - É que esses homens são uns primatas mesmo! Que ver uma coisa? Basta a gente racionar um pouco o sexo que eles inventam e armam logo um jeito pra sair fora! Mas, o meu que espere só! Vou arrancar o coro dele!
Sicrana         - Hoje em dia tá muito complicado manter uma relação!
Beltrana        - Ó, estamos perdidas amiga!...
Fulana           - Realmente é o fim! Uma psicóloga entregando os pontos...
Sicrana         - Suas cínicas!
Fulana           - Só um minutinho!
FULANA VAI PARA DENTRO.
Beltrana        - Eu acho que vocês é que não estão sabendo lidar com os homens!
Sicrana         - E você por um acaso sabe?
Beltrana        - Eu nunca fico sem!
FULANA ENTRA TRAZENDO UMA BANDEJA COM COPOS E UM VINHO.
Fulana           - Pelo menos de casamento, ela entende!
Beltrana        - Vocês são umas reprimidas, isso sim! Eu sempre fui feliz nos meus casamentos, e tem mais, eles me deram as coisas mais lindas do mundo: meus filhos! Carla Fernanda, Rodrigo Augusto, Rafael Leandro e Camila Beatriz! E se o homem, não der certo, a gente arruma outro, e tudo bem!
Sicrana         - Isso que é disposição!
Beltrana        - Disposição não, queridinha, amor próprio!
Fulana           - Ela está sempre preparada pra arrumar um outro!...
Beltrana        - Eu nunca precisei de homem nenhum! Tá certo que tem horas que a  gente  precisa, não adianta!  Mas é só!  Hoje sou uma  empresária  de  sucesso,
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muito  bem  sucedida para ser bem clara!  Pra  que vou ficar me preocupando com homem? Encheu minha paciência, eu mando andar!
Fulana           - Mas, fala um pouco do seus filhos, Beltrana?
Beltrana        - Ah, eles são lindos! Todos!... E vocês, não tiveram filhos?
Sicrana         - Eu tive, mas perdi! Nunca consegui segurar  uma  gravidez. A  que  eu  consegui, acabei perdendo no parto!
Beltrana        - Que pena!
Fulana           - Eu infelizmente, nunca pude ter filhos! Eu não, o meu marido! Foi uma barra quando descobri, mas agora sou bem resolvida com isso!... Mas, conta dos filhos, Beltrana!
Beltrana        - Então vamos lá! Carla Fernanda é a mais velha! Está no primeiro ano de Direito, ela diz que vai ser delegada! Toda vez que ela toca no assunto eu quero morrer!
Sicrana         - Ter uma filha delegada hoje em dia não é mesmo fácil!
Fulana           - Beltrana tá assim porque tá com medo  que os homens sumam de perto dela!
Beltrana        - Não é nada disso!
Fulana           - Já pensou? O Homem chega, conversa vai, convesa vem, quando descobre que a filha da mulher é uma delegada, broxa na hora!...
Sicrana         - Sabe que eu não tinha pensado nisso!
Beltrana        - Suas engraçadinhas!....
Fulana           - Então continua, vai!
Beltrana        - Então, ela é uma teimosa! Não tem nada que a faça mudar de idéia! Parece  com  o pai,  uma porta!  Já  o Rodrigo Augusto mora  nos  Estados Unidos
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com o pai, uma vez por ano ele vem me visitar. Tenho menos trabalho com ele! Já o Rafael Leandro quer ser bailarino. Já fez não sei quantos testes, mas cá entre nós, ele não tem jeito nenhum, coitado! Mas, a gente é mãe, tem que incentivar, é ou não é?
Sicrana         - Isso você tem razão! Apoiar os filhos sempre!
Fulana           - Mas, por que você acha que ele não vai dar certo?
Beltrana        - Ele é duro feito uma porta, não consegue nem dançar uma valsa!
Sicrana         - Quantos anos ele tem?
Beltrana        - Tem 13 anos! Ele e Camila moram comigo!
Fulana           - E a... Camila?
Beltrana        - Camila Beatriz é a minha caçula, tem 08 anos, meu xodózinho! Hoje ela foi passar o dia na casa da avó. Já Rafael saiu com o pai pra ver um jogo de futebol! O  pai quer convencer o filho a trocar o balé pelo futebol! Ele anda doente com essa idéia de ter um filho bailarino!
Fulana           - O pai é o tipo machão?
Beltrana        - Machão e preconceituoso!
Sicrana         - Mas, o fato do menino querer ser bailarino não quer dizer que ele tenha pré-disposição para ser um homossexual!
Beltrana        - Eu sei! E sei que meu filho não tem essa pré-disposição! E também se tivesse, natural!
Fulana           - É aquela história, né? Homem é homem, tem que fazer coisa de ho-mem!...
Beltrana        - Mas, Rafael tem personalidade, lida bem com o pai sobre isso!
Sicrana         - É, nossas vidas mudaram bastante, hein?
14.  
Fulana           - E você, Sicrana? Conta mais sobre você!
Sicrana         - Não tenho muito mais o que falar! Apenas que acabei de me sepa-rar e trabalho!
Beltrana        - Mas fale da sua carreira!... Você tem consultório?
Sicrana         - Tenho sim! E além do consultório, ainda dou aula e também dou conselhos sentimentais em um site na internet.
Fulana           - Desde sempre você foi dada a dar conselhos sentimentais, lembra?
Sicrana         - Lembro sim! Ás vezes chego até me lembrar de coisas que falei pra vocês!
Beltrana        - A teoria é linda!...
Fulana           - Vai dizer que você nunca quis um conselho sentimental?
Beltrana        - Eu não! Isso é coisa de mulher que passa as noites vendo novelas! Eu não tenho tempo pra isso! Essa coisa de romantismo, tô fora!
Fulana           - Mas eu tenho! Então vou aproveitar e fazer uma consulta à nossa amiga aqui, posso?
Sicrana         - Claro!
TOCA O TELEFONE DE SICRANA.
Sicrana         - Dá licença!... Só um minutinho!
SICRANA SE AFASTA DAS DUAS.
Beltrana        - Você quer um conselho, te dou!
Fulana           - Diz, querida!
Beltrana        - Sobre o que você quer saber? Homens, Casamentos, Sexo...
Fulana           - Dê o seu conselho! Aí eu vejo se dá pra aproveitar alguma coisa.
Beltrana        - Escuta só! Homem, por exemplo:  homem  gosta de sexo selvagem!
15.  
Gosta daquela mulher que se entrega por inteiro! Essa história de dorzinha de cabeça é o fim! Se você gosta mesmo do seu homem, tem que estar sempre dis-posta! Tendo o sexo, homem nenhum arruma outra! Olha aí, viu só? Te dei um conselho que vale por três. Homem, Casamento e Sexo!
Fulana           - É, pelo jeito, você deve ter tido muita dor de cabeça nesses anos todos, não?
Beltrana        - Isso não tem nada a ver! Comigo a coisa foi outra!... Os meus casa-mentos sempre acabaram, por um único motivo. Incompatibilidade de gênios!
Fulana           - Sei!... Obrigado pelo conselho, mas, vou preferir ouvir a psicóloga!
SICRANA AINDA AO TELEFONE.
Sicrana         - Já disse que vou desligar!... Tchau!
SICRANA DESLIGA O TELEFONE E VOLTA AO ASSUNTO.
Sicrana         - Onde a gente tava mesmo?
Beltrana        - Algum problema, Sicrana?
Fulana           - Pode se abrir com a gente!
Sicrana         - Não, tudo bem! Você me pediu um conselho, não foi Fulana?
Beltrana        - Não se preocupe com isso que eu já adiantei o serviço!
Fulana           - Beltrana, dá licença! Escuta só, Sicrana! Meu marido pediu a sepa-ração, até aí, tudo bem, mas, se eu descobrir que ela está com outra, o que é que eu faço? Mato primeiro ele ou primeiro ela?
Beltrana        - Que isso! Homem nenhum vale esse sacrifício! Você tem é que tratar é de arrumar uma boa pensão, e partir pra outra!
Sicrana         - Ela tem razão, Fulana! Hoje nós somos mulheres independentes, donas  dos nossos narizes! Essa história de crime passional só vai arruinar sua vi-
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da!  Dê  mais valor pra você! Vê como você é bonita, cheia de energia... Vai se humilhar desse jeito por alguém que te deixou? O nosso amor próprio, tem que  estar em primeiro lugar!
Beltrana        - O que você tem que fazer é conseguir uma gorda pensão, o resto...
Fulana           - Mas isso eu não tenho a menor dúvida!
Sicrana         - Então esquece! Você tá com tudo em cima, homem não vai faltar!
Beltrana        - E olha, homem hoje em dia é pra usar como brinquedinho! Hoje em dia não, sempre! Enjoou, joga fora e pronto!
Sicrana         - Você está com essas coisas na cabeça, porque ainda está magoa-da, eu sei como é! Eu também ainda estou assim!
Fulana           - Vocês me conheçaram de um outro jeito! Aquela coisa que eu tinha de trocar de namorado era coisa da adolescência! Quando eu conhecí ele, aca-bou! Resolví que ia ser dele pra vida inteira!
Beltrana        - E ele, também tinha decidido isso?
Sicrana         - Pô Beltrana! Se não quer ajudar, não atrapalha!
Fulana           - Dezesseis anos de casamento! Dividi minha vida com ele! Nem o fato dele não poder ter filho, incomodou! Abri mão de ser mãe, não me arrependo, pois ele era a minha vida! É difícil alguém chegar pra você de uma hora pra outra, não quero mais! Vou confessar uma coisa pra vocês! Não gosto muito de falar nesse assunto, mas fiz cada coisa com ele na cama que vocês nem acreditam! Tudo porque ele sempre foi doido por fantasias! Eu não gostava muito, mas nunca neguei nada pra ele!
FULANA CHORA CONTIDA. BELTRANA A SERVE UM COPO DE VINHO.
Sicrana         - Isso é magoa! Já, já, passa!
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Beltrana        - O dia que o juíz determinar a pensão, isso passa!
Fulana           - Pôxa, foi uma vida! (TOMA O VINHO NUM GOLE SÓ)
Beltrana        - Você morreu? Descarrega essa sua energia com seu personal, bobinha!... Ou então!...
Sicrana         - ...Usa aquele brinquedinho, lembra?
Beltrana        - Que brinquedinho?... Não vai dizer que...
FULANA PÁRA DE CHORAR.
Fulana           - Vai dizer que você nunca usou?
Beltrana        - Tenho um na bolsa, queridinha! A gente nunca sabe quando o te-são chega!
Sicrana         - Não acredito!...
Beltrana        - Eu sou uma mulher moderna, minha filha!... Fulana, posso ir ao toilette?
Fulana           - Claro! Segunda porta a direita no final do corredor.
BELTRANA SAI DE CENA. FULANA E SICRANA SE SERVEM DE VINHO.
Fulana           - Desculpa, tá?
Sicrana         - Que isso, amiga? Não se preocupe!
Fulana           - Foi muito bom a gente ter se reencontrado!
Sicrana         - Graças a tecnologia, não é mesmo?
Fulana           - Santo site de relacionamento!
Sicrana         - Não fica pensando em fazer besteira, não vale a pena!
Fulana           - É que as vezes sobe um raiva!...
BELTRANA VOLTA A SALA.
Beltrana        - Qual é a conversa?
18.  
Fulana           - Se tiver mulher nessa história, eu mato a vaca!
Sicrana         - Deixa eu falar uma coisa pra você! Pensa que a gente se  reencon-trou, que vamos poder contar uma com a outra, que temos muito pra curtir!...
Beltrana        - Isso mesmo! Mas pena que daqui a pouco eu tenho que ir embora! Preciso pegar Camilinha na mamãe!
Fulana           - Ah, não! Bebe mais um pouco de vinho!
Beltrana        - Sabe como é? Ainda tem o marido novo...
Sicrana         - Só mais um copo então!
FULANA SERVE BELTRANA.
Beltrana        - Tudo bem, vai! Mas, só uma!
Sicrana         - Porque ela não pode demorar, viu Fulana! Precisa praticar ainda aquele sexozinho...
Fulana           - Feito uma gata selvagem...
Beltrana        - Vocês são duas mal-amadas!
FULANA E SICRANA RIEM DE BELTRANA. TODAS BRINDAM DESCONTRAÍ-DAS.
Beltrana        - Mas vocês vão  ver  só!  No dia que  vocês conhecerem  ele,  vocês vão se rasgar inteiras!
Fulana           - De tanto rir...
Sicrana         - Ou de tanto chorar?
Beltrana        - Só pra vocês babarem, ó! Ele é forte, cabelos dourados, corpo bron zeado, tem uma fábrica de pranchas de surf, super natural, um alto astral que vocês nem imaginam...
Fulana           - Isso é real ou é coisa de sua imaginação?
19.  
Sicrana         - Que mais, Beltrana?
Beltrana        - Se interessou, né queridinha? Então vou contar o que me deixou babando! Uma tatuagem de dragão no meio das costas... aí, uí... até passo mal!
Fulana           - E ele é um garotão?
Beltrana        - Que nada! Quase cinquentão! Mas, saradão!
Sicrana         - E qual é o nome desse “Deus”?
Beltrana        - Heleno! Mas, eu chamo ele de Leno!
SICRANA PARTE PRA CIMA DE BELTRANA.
Sicrana         - Sua vagabunda! Então foi por sua causa!
Beltrana        - Me solta! Tá ficando louca?
FULANA CONSEGUE ENTRAR NO MEIO DAS DUAS.
Sicrana         - Eu vou te matar, sua vagabunda!
Fulana           - Que foi, Sicrana?
Sicrana         - Esse Heleno é o meu Heleno! Que me trocou por essa vadia!
Beltrana        - Acho que tem algum engano aí!
Fulana           - Calma Sicrana, calma!
Sicrana         - Calma o cacete! Eu vou quebrar essa vadia!
Beltrana        - Ele nunca me falou que era casado!
Fulana           - E você nem pra perguntar, né?
Beltrana        - Pra que?
Sicrana         - Então você é a coroa que vivia cercando a oficina dele, não é? O menino que trabalha com ele bem que me avisou!
Beltrana        - Isso é que dá passar os dias dando conselhos sentimentais! Se tivesse feito o seu, ele não estaria tão precisado!
20.  
Fulana           - Não bota mais fogo também, Beltrana!
Sicrana         - A gente se dava super bem! Não tinha motivo! Tá na cara que essa aí, se arreganhou toda pra ele!
Beltrana        - Quem mandou ficar só na teoria?
Sicrana         - Isso não vai ficar assim!
SICRANA TENTA AVANÇAR NOVAMENTE EM BELTRANA, MAS É SEGURA POR FULANA QUE A LEVA PARA DENTRO. BELTRANA ANDA PELA CENA.
Beltrana        - Eu não tive culpa! Como eu ia adivinhar?
BELTRANA  ENCHE  O  COPO DE VINHO E ENGOLE DE UMA VEZ SÓ. ENTRA FULANA.
Beltrana        - Eu tava sozinha na praia, ele apareceu, simpático, conversa vai, conversa vem...
Fulana           - E você, pimba!
Beltrana        - Aconteceu!... E quer saber? Ele é até meio mais ou menos!
Fulana           - Deixa ela se acalmar um pouco! Depois a gente conversa e vamos ver se conseguimos colocar as coisas no lugar!
Beltrana        - Por mim, não tem mais briga!
Fulana           - Deixa ela voltar!
Beltrana        - Vou falar pra ela que assim que chegar em casa, termino tudo com ele!
Fulana           - Primeiro conta tudo pra ela! Tenho certeza que ela vai entender!
ENTRA SICRANA.
Sicrana         - Desculpa pela minha atitude! Acabei estrapolando!
Beltrana        - Já falei para Fulana! Eu tava  na  praia,  aí  ele  veio,  conversa  vai,
21.  
conversa vem...
Sicrana         - Tinha que ser logo você?
Beltrana        - Já falei pra Fulana, que assim que chegar em casa, vou terminar tudo.
Fulana           - A gente aqui se reencontrando depois de tanto tempo, e deixando que um homem ponha tudo a perder? Não!
Beltrana        - Eu não sabia!
Sicrana         - Você está certa! A verdade era que a gente não estava bem mes-mo! Se não fosse você, seria outra! A separação era questão de tempo! Eu que não queria enxergar!
Beltrana        - Então, essa fica pelo troco daquele gato que você me roubou no úl-timo ano do colégio, lembra?
Fulana           - Aquele surfistinha?
Beltrana        - É! Eu era apaixonada por ele!
Sicrana         - Você devia me agradecer! O cara era o maior cabeça vazia! Quan-do balançava a cabeça pra arrumar o cabelo, dava até pra ouvir o mar fazendo on-da lá dentro!
Fulana           - Pior que minhoca?
Sicrana         - Camarão perto dele era Einstein!
Beltrana        - Sem rancor?
Sicrana         - Sem rancor!
Fulana           - Isso merece um brinde!
FULANA SERVE OS COPOS. TOCA NOVAMENTE O CELULAR DE SICRANA.
Sicrana         - Eu já falei pra não me ligar?... Hoje não posso!... Já é tarde!...  Mar-
22.  
ca uma hora no meu consultório amanhã que a gente conversa!... Vê se não liga mais...
SICRANA SE AFASTA.
Beltrana        - Ela fala do ex, mas tenho certeza que está com alguém!
Fulana           - É só um paciente!
Beltrana        - Não sei, não! Ela vem recebendo ligações desde que a gente che-gou!
SICRANA INTERROMPE A LIGAÇÃO E SE DIRIGE A BELTRANA.
Sicrana         - Se você quiser, não precisa terminar com o Heleno não!...
DE NOVO AO TELEFONE, SE AFASTA.
Sicrana         - Oi... Então tá bem!... Amanhã... Sei.
Beltrana        - Eu já estava até sentindo remorso! Já estava até me sentindo cul-pada pela separação... Mas, sabe de um coisa? Foi ela quem falou que eles não estavam bem!  E tem mais, tenho certeza que esse aí é mais que um paciente!
Fulana           - Então você não vai terminar com ele?
Beltrana        - Eu não sei! Vou ter uma conversa muito séria com ele!
Fulana           - Mas, vocês não estavam se dando bem?
Beltrana        - Mais ou menos!
SICRANA DESLIGA O TELEFONE.
Fulana           - Mas, você não gosta dele?
Beltrana        - Ele mexe comigo, não sei explicar!
Sicrana         - Olha Beltrana, se você quer continuar com ele, vou te dar umas di-cas!
Fulana           - Sacaniar não vale, hein?
23.  
Sicrana         - Só vou contar umas dificuldades que ela vai enfrentar!
Beltrana        - Que dificuldades?... Não sei como você foi deixar ele escapar!
Fulana           - Quanto tempo você tá com ele mesmo?
Beltrana        - Seis meses!
Sicrana         - Então se prepara! Agora que vai começar! Você não disse que ele estava começando a colocar as asinhas de fora?
Beltrana        - De vez em quando!
Sicrana         - Ele só estava marcando o terreno, agora vem o pior! Se prepara!
Fulana           - Coitada! Já tô com peninha dela!
Sicrana         - Convivi com isso quinze anos! Primeira coisa que ele vai fazer, vai te proibir de ir à praia, depois, não vai deixar você usar saia! Minissaia então, nem pensar!...
Fulana           - Um troglodita?
Sicrana         - Genuíno!
Beltrana        - Você está falando isso de despeito!
Sicrana         - Estou te falando como amiga, mas, se você não quiser ouvir!... Ami-zade com homens, pode esquecer! Trabalhar, ele até deixa, pois afinal de contas, o dinheiro sempre acaba ajudando...
Fulana           - E você agüentou quinze anos?
Sicrana         - Amor!... Amor!...
Beltrana        - Jura?
Sicrana         - Pela nossa amizade!
Fulana           - Isso é que dá ficar pegando homem por aí!
Beltrana        - Pelo menos, eu não fico por ai chorando o chifre que levei!
24.  
Fulana           - Eu não levei chifre nenhum!
Sicrana         - Foi só mais uma vagabunda que apareceu na área, não é?
Fulana           - Mas, mais dia, menos dia, eu pego!
Beltrana        - Ai,  essa  conversa tá ficando muito chata!...  Homem, quem precisa de homem?
Fulana           - Tem uma amiga da academia que diz assim: Pra que ficar com o porco todo, se só o que interessa é a lingüiça?
Sicrana         - Eu acho que ela está muito certa!
Beltrana        - Pôxa, até que enfim vocês entenderam!
TOCA NOVAMENTE O CELULAR DE SICRANA, MAS DESSA VEZ ELA NÃO ATENDE.
Beltrana        - Não vai atender?
Sicrana         - Não!
Fulana           - Pode ser alguém importante!
Beltrana        - Um porquinho esperto oferecendo a sua linguicinha!...
Sicrana         - Sem brincadeira! Eu posso me abrir com vocês?
Fulana           - Claro!
Beltrana        - Que sério!
Fulana           - Afinal de contas, esse encontro foi pra colocar nossa amizade em dia! Ou não foi?
Sicrana         - Então eu vou contar pra vocês! Eu falei que trabalho como  consul-tora sentimental em um site, não falei?
Fulana           - Falou!
Beltrana        - Eu acho isso o fim!
25.  
Sicrana         - Acontece, que chega uma porção de e-mails com tudo o que vocês possam imaginar!
Beltrana        - Muita coisa cabeluda?
Sicrana         - Tem coisa, que não dá nem pra pensar de tão absurda!
Fulana           - Mas, o que é que tem?
Sicrana         - Vou contar!... Outro dia, recebí um e-mail de uma homem... como era mesmo que ele assinou?... Ah! O Tarzan do asfalto! Peludo, selvagem e moto-rizado!
Beltrana        - Não dá pra imaginar alguém assim...
Fulana           - E o que é que tem?
Beltrana        - Que foi, Fulana? Se interessou pelo Tarzan?
Sicrana         - Sem brincadeira, gente! A coisa é muito séria!
TOCA NOVAMENTE O CELULAR DE SICRANA, QUE NÃO O ATENDE.
Fulana           - É ele?
Sicrana         - É, mas deixa pra lá!...
Beltrana        - Conta, pra ver se dá pra aproveitar alguma coisa!
Sicrana         - Então, esse cara, escreveu no e-mail, que estava infeliz, pois gos-tava de fazer coisas diferentes e sua mulher só queria o trivial. Que sempre que ele chegava, a mulher já estava exausta de tanto malhar na academia, que o sim-ples pra ela tava bom... Isso foi se repetindo. Todo dia ele escrevia, e falava, fala-va... De repente, recebí a ligação dele no consultório, queria me ver... Falar comi-go...
Fulana           - Sei!...
Sicrana         - Ele tinha muitas fantasias, mas sua mulher que de vez  em  quando
26.  
aceitava, passou a negar. Então ele queria um conselho meu!
Beltrana        - Por quê você não mandou ele pra mim?
Sicrana         - É sério! De tanto ele insistir, dei um conselho para ver se ele larga-va do meu pé! Eu  falei  que ele  devia tentar o diálogo,  mas se não conseguisse resolver a situação, o melhor seria ele pedir a separação, e foi o que ele fez!
Beltrana        - E não rolou nada?
Sicrana         - Era um assunto profissional!
Fulana           - E depois?
Sicrana         - Depois, nunca mais tinha visto ele. Uns dias atrás, encontrei com ele na rua, já tava bem, aparentava mais calma... Me convidou pra sair, no co-meço eu resisti, disse que não podia me envolver com ele, que ele tinha sido meu paciente, o que na verdade ele nunca foi! E de tanto ele insistir, eu acabei acei-tando o convite! Sai com ele umas duas vezes.
Beltrana        - Sabia! Não falei que aí tinha alguma coisa?
Fulana           - Muito interessante! Continua...
Sicrana         - Só que agora, ele está com uma fantasia de transar com uma con-selheira sentimental, e não larga do meu pé!
Fulana           - E como é que ele se chama?
Beltrana        - Por quê, interessou?
Sicrana         - Acho que é... Alfredo. Isso, é Alfredo!
ANTES DE SICRANA REPETIR, FULANA VOA PRA CIMA DE SICRANA.
Fulana           - Então foi por sua causa!
Sicrana         - Do que você está falando?
SICRANA SE SOLTA E SE PÕE ATRÁS DO SOFÁ.
27.  
Fulana           - Alfredo é o meu marido! Aliás, era!
Sicrana         - Eu não sabia! O cara é um tarado!
BELTRANA SE SENTA AO SOFÁ, SE SERVE DE VINHO E APRECIA A DIS-CUSSÃO.
Fulana           - Você e suas amigas mal-amadas, ficam enfiando minhocas na ca-beça dos maridos das outras invés de cuidar dos seus! Bem feito que tomou um par de chifres!
Sicrana         - Mas, você tinha que dar graças a Deus! Você não tem idéia do que eu tô passando! Ele não podia ser um bom marido pra você!
Fulana           - Eu é que sei!...
Beltrana        - Isso ela tem razão, Fulana! Você estava se queixando até agora!
Fulana           - É castigo! É castigo! Esse chifre que a Beltrana te deu, é castigo!
Sicrana         - É o meu trabalho! Eu sou paga pra isso!
Beltrana        - Mas as saídas depois não, não é queridinha?
Fulana           - Eu vou te matar!
Sicrana         - Não! Vamos conversar!
Fulana           - Não acredito que abri as portas da minha casa pra você!
Sicrana         - Eu preciso de ajuda! Ele vai acabar me matando!
BELTRANA SE LEVANTA E LEVA FULANA PRA DENTRO.
Beltrana        - Agora chega! Vamos se acalmar um pouco!
TOCA O TELEFONE DE SICRANA E ELA ATENDE.
Sicrana         - Oi Alfredo!... Agora não!... Não!!!... Você sabe onde eu estou?... Não?... Veja como as coisas são!... Estou na casa de uma pessoa que você co-nhece muito bem!.... Quem?
28.  
Fulana           - (EM OFF) Eu não quero me acalmar!...
Sicrana         - ... Alô?... Desligou! Ainda bem!
BELTRANA VOLTA A SALA.
Beltrana        - Ela já está mais calma!
Sicrana         - Eu não tive culpa! Como eu ia adivinhar?
Beltrana        - Eu também não tive culpa, mas você partiu pra cima de mim! Vê como são as coisas?!
Sicrana         - É diferente!
Beltrana        - Estamos empatadas, queridinha! Eu roubei seu marido, você rou-bou o marido da Fulana!
Sicrana         - Eu não roubei marido de ninguém! Eu arrumei foi sarna pra me coçar, isso sim!
Beltrana        - Quem mandou encher a cabeça dele com seus conselhos?
Sicrana         - O doido parou em mim! Um absurdo! Ele parecia uma pessoa tão simpática!
Beltrana        - A gente vai resolver isso!
Sicrana         - O cara não existe! Eu já ando apavorada!
FULANA VOLTA A SALA MAIS CALMA, MAS COM UMA FACA NA MÃO.
Beltrana        - Está mais calma?
FULANA AMEAÇA SICRANA COM A FACA.
Sicrana         - Desculpa, Fulana! Eu não tinha como saber!
Beltrana        - Larga isso, Fulana!
Fulana           - Mas, tinha que sair com ele?
Sicrana         - Eu só quis ser simpática!
29.  
FULANA LARGA A FACA SOBRE A MESA.
Beltrana        - Vai dizer que não rolou nem uns beijinhos?
Fulana           - Se bobiar, até transou com ele!
Sicrana         - Não, Não aconteceu nada! Pois eu não estou contando pra vocês que agora ele está me seguindo para realizar sua fantasia de transar comigo?
Beltrana        - Sempre tem um homem atravessando o nosso caminho!
Sicrana         - Como amiga eu te juro, não aconteceu nada!
Beltrana        - Agora a gente vai ter que resolver essa pendenga aqui! O que é mais importante, a nossa amizade ou homem?
Fulana           - O meu homem!
FULANA AMEAÇA PEGAR A FACA NOVAMENTE E CONTIDA POR BELTRANA.
Sicrana         - A gente resolve isso!
Beltrana        - Assim também não dá, né Fulana?
Fulana           - Minha vontade é esganar você!
Beltrana        - Chega!!! A gente vai ficar aqui a noite toda chorando dor de corna? Assim a gente não vai chegar a lugar nenhum!
Sicrana         - Ele tem uma personalidade inquieta, não sei como  você  conseguiu conviver com ele tanto tempo!
Fulana           - Amor Sicrana, amor!
Beltrana        - Então vamos fazer o seguinte: Eu devolvo o marido da Sicrana e ela devolve o seu. E não se fala mais no assunto, certo?
As Duas        - Cala boca, Beltrana!!!
TOCA NOVAMENTE O TELEFONE DE SICRANA. FULANA PEGA E O ATENDE.
Fulana           - Escuta aqui, Alfredo! Você fique sabendo que já sei de toda a histó-
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ria, e fique sabendo que isso não vai ficar assim! Se você pensa que eu sou aque-la bobinha, você está muito enganado! E pode esperar, que vou arrancar todo o dinheiro que você já ganhou e todo aquele que você venha a ganhar! Ouviu bem, Tarzan!?... Quem?... Você não é o Alfredo?... Desculpe!... Só um minuto!...
SICRANA PEGA O TELEFONE DE FULANA.
Sicrana         - Oi, quem é?... Não, não preciso de ajuda não!... É só uma crise...
Beltrana        - Quem era?
Fulana           - Um doutor, não entendí o nome!
Sicrana         - Amanhã eu passo no hospital!... Pra você também!...
SICRANA DESLIGA O TELEFONE.
Fulana           - Desculpa! Ele deve ter pensando que eu era uma louca!
Beltrana        - Nada muito longe disso, né?
Sicrana         - Eu prometo que vou fazer ele voltar pra você!
Fulana           - Eu não quero saber dele! Agora o que eu quero é tirar até o último dinheiro que ele tenha!
Beltrana        - Aí, não faz isso com ele! Coitado! Ele só tá um pouco carente!
Sicrana         - Desculpe Fulana, talvez você nem tenha culpa, mas na verdade, o seu marido está passando por uma fase de carência.
Fulana           - Marido não, ex! E carente tô eu! Só eu sei o que passei!
Beltrana        - Se quiser, empresto o meu brinquedinho! Qué?
Fulana           - Obrigada, queridinha! Depois eu compenso com meu personal, tá?
Beltrana        - Ai que chique!
Sicrana         - Vocês precisam me ajudar!
Fulana           - Desculpe, mas isso você vai ter que resolver sozinha!
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Beltrana        - Deixa que eu te ajudo, amiga!
Fulana           - Você vai encontrar com ele, não vai?
Sicrana         - Ele disse que vai no meu consultório amanhã!
Fulana           - Eu vou até lá dentro e já voltou!
Beltrana        - Mas, você não estava com medo dele, Sicrana?
FULANA SAI DE CENA.
Sicrana         - Lá no consultório, duvido que ele tente alguma coisa!
Beltrana        - Vê se não demora, hein Fulana!
Fulana           - (EM OFF) Não! É rapidinho!
Beltrana        - Tô precisando ir embora!
Sicrana         - Vai se juntar com aquele troglodita?
Beltrana        - Vou! Só que decidi que vou terminar tudo com ele!
Sicrana         - Mas avisa pra ele, que eu não aceito devolução, viu?
O TELEFONE DE SICRANA TOCA INSISTENTEMENTE.
Sicrana         - Não vou atender!
Beltrana        - Atende!
Sicrana         - Eu já estou cansada! Esse homem é um inferno!
Beltrana        - Atende e passa pra mim!
Sicrana         - O que você vai fazer?
Beltrana        - Atende!
SICRANA ATENDE O TELEFONE.
Sicrana         - Alô!... Sim, sou eu!...Não faz isso!... Espera!... A gente vai resolver isso!... Eu entendo!...
BELTRANA PEGA O TELEFONE DA MÃO DE SICRANA.
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Beltrana        - Alô!... É o Tarzan do asfalto?... Aqui é alguém que está louquinha pra te conhecer!... Não, você não me conhece!... Sou uma conselheira sentimen-tal... Onde você quiser!... Não!... Conheço!... Pode me esperar!... Um beijo nessa boca!
BELTRANA DESLIGA O TELEFONE.
Sicrana         - Que você fez?
Beltrana        - Vou trocar o marido de uma amiga, pelo marido da outra!
Sicrana         - Você é louca!
ENTRA FULANA TRAZENDO UMA MALA.
Fulana           - Desculpe a demora!
Beltrana        - Que é isso, vai viajar?
Sicrana         - Pra que essa mala?
Fulana           - Você não disse que vai encontrar com aquele traste?
Sicrana         - Mas, o que essa mala tem a ver com isso!
Beltrana        - Não vai dizer que você vai sair da sua casa?
Fulana           - Que isso? Daqui eu não saio nem morta! Isso aqui é pra você entre-ga pro verme! É o resto das roupas dele que ficou aqui no meu armário!
Sicrana         - Eu não quero e nunca quis nada com ele!
Fulana           - Eu já entendi! Daqui a pouco a raiva a passa!
Beltrana        - Pode ficar tranquila que eu vou resolver esse assunto!
Fulana           - Como você tem tanta certeza disso?
Beltrana        - Vou te mostrar que sou tua amiga de verdade!
Sicrana         - Eu não tenho nada a ver com isso! Foi tudo idéia dessa cabeça doente que ela tem!
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Fulana           - Fala logo, mulher!
Beltrana        - Já passou a raiva?
Fulana           - Prometo que não vou morder ninguém!
Sicrana         - Posso falar, Beltrana?
Fulana           - Qual é a armação!
Beltrana        - Deixa que eu falo! O caso é que amo vocês de paixão! Então, vou sacrificar minha vida pra ajudar vocês e fazer vocês felizes! Somos amigas, não somos? Sem querer, eu acabei pisando na bola com a Sicrana, ela sem querer, acabou pisando na bola com você. Culpa de quem? Nem dela, nem sua. E como resolver isso? Eu vou enfrentar o Tarzan do asfalto pra salvar vocês!
Fulana           - Eu não acredito!
Sicrana         - Eles foram feitos um para o outro!
Beltrana        - E tem mais, vou dar um jeito pra você se dá muito bem com a sepa-ração!
Fulana           - Eu devia plantar a mão na tua cara!
Beltrana        - Eu vou salvar vocês!
Sicrana         - Eu não tive nada a ver com isso!
Fulana           - Então, faz um favor pra mim!
Beltrana        - Tudo que você quiser, amiga!
FULANA ENTREGA A MALA PARA BELTRANA.
Fulana           - Então toma, que essa bagagem é sua!
Beltrana        - Eu entrego! Só que hoje você ainda vai ter que ficar com ela!
Fulana           - Nada disso!
Beltrana        - Primeiro eu preciso resolver o assunto com o marido da Sicrana!
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Sicrana         - Ex, ex! E avisa pro outro lá, que vai ter o troco!
Fulana           - Se não tiver pra onde mandar o marido da Sicrana, manda pra cá!
Sicrana         - Fulana!
Fulana           - Assim, a gente fica empatada, tá?
Beltrana        - Espero que seu marido, seja melhor do que o dela!
Fulana           - Pode ficar tranquila que ele é seu número!
Sicrana         - Vai caber certinho!
BELTRANA SERVE OS COPOS DAS AMIGAS.
Beltrana        - Então, vamos fazer um brinde!
Sicrana         - A nossa amizade!
Fulana           - Ao próximo encontro!
Beltrana        - E que não seja só daqui a vinte anos!


                                                           - FIM -









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