17/06/2011

Romance do boi da Mão de Pau


 

Romance do boi da Mão de Pau

Fabião das Queimadas (Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha) 1848-1928. Rio Grande do Norte.

Vou puxar pelo juízo
Para saber-se quem sou
Prumode saber-se dum caso
Tal qual ele se passou
Que é o boi liso vermelho
O Mão de Pau corredor

Desde em cima, no sertão
Até dentro da capitá
Do norte até o sul
Do mundo todo em gerá
Em adjunto de gente
Só se fala em Mão de Pau

Pois sendo eu um boi manso
Logrei a fama de brabo
Dava alguma corridinha
Por me ver aperiado
Com chocalho no pescoço
E além disto algemado...

Foi-se espalhando a notícia
Mão de Pau é valentão
tendo eu enchocalhado
Com as algemas nas mão
Mas nada posso dizer
Que preso não tem razão

Sei que não tenho razão
Mas sempre quero falá
Porque alé d'eu estar preso
Querem me assassinar...
Vossa mercês não ignorem
A defesa é naturá

Veio cavalos de fama
Pra correr ao Mão de Pau
Todos ficaram comido
De espora e bacalhau...
Desde eu bezerro novo
Que tenho meu gênio mau

Na serra de Joana Gomes
Fui eu nascido e criado
Vi-me morrer lá pro Salgado
Daí em vante os vaqueiro
Me trouveram atropelado...

Me traquejaram na sombra
Traquejavam na comida
Me traquejavam nos campo
Traquejavam na bebida
Só Deus terá dó de mim
Triste é a minha vida

Tudo quanto foi vaqueiro
Tudo me aperriou
Abaido de Deus eu tinha
Fabião a meu favor
Meu nego, chicota os bicho
Aqueles pabuladô

Pegaram a me aperiar
Fazendo brabo estrupiço
Fabião na casa dele
Esmiuçando por isso
Mode no fim da batalha
Pude fazê o serviço

Tando eu numa maiada
Numa hora d'amei-dia
Que quando me vi chegá
Três vaqueiro de enxurria
Onde seu José Joaquim
Este me vinha na guia

Chegou-me ali de repente
O cavalo Ouro Preto
E num instante pegou-me
Num lugá até estreito
Se os outro tiveram fama
Deles não vi proveito

Ali fui enchocalhado
Com as algemas na mão
Butado por Chico Luca
E o Raimundo Girão
E o Joaquim Siliveste
Mandado por meu patrão

Aí eu me levantei
Saí até choteando
Porque eu tava peiado
Eles ficaram mangando
Quando foi daí a pouco
Andava tudo aboiando...

Me caçaram toda a tarde
E não me puderam achar
Quando foi ao pôr-do-sol
Pegaram a se consultar
Na chegada de casa
Que história iam contar

Quando foi no outro dia
Se ajuntaram muita gente
— Só pra dar desprezo ao dono
Vamos beber aguardente
Pegaram a se consultar
Uns atrás, outro agüente

Procurei meu pasto veio
A serra de Joana Gome
Não venho mais no Salgado
Nem que eu morra de fome
Pru que lá aperriou-me
Tudo o que foi de home

Prefiro morrer de sede
Não venho mais no Salgado
No tempo que tive lá
Vivi muito aperriado
Eu não era criminoso
Porém saí algemado

Me caçaram muito tempo
Ficaram desenganado
E eu agora de-meu
Lá na serra descansado
Acabo de muito tempo
Vi-me muito agoniado

Quando foi com quatro mês
Um droga dum caçadô
Andando lá pulos matos
Lá na serra me avistou
Correu depressa pra casa
Dando parte a meu sinhô

Foi dizê a meu sinhô
— Eu vi Mão de Pau na serra
Daí em diante os vaqueiro
Pegaro a mi fazê guerra
Eu não sei que hei de fazê
Para vivê nesta terra

Veio logo o Vasconcelos
No cavalo Zabelinha
Veio disposto a pegar-me
Pra ver a fama qu'eu tinha
Mas não deu pra eu buli
Na panela das meizinha

Sei que tô enchocalhado
Com as argema na mão
Mas esses cavalo mago
Enfio dez num cordão
Mato cem duma carreira
Deixo estirado no chão

Quando foi no outro dia
Veio Antônio Serafim
Meu sinhô Chico Rodrigue
Isto tudo contra mim
Vinha mais muito vaqueiro
Só pro mode dá-me fim

Também vinha nesse dia
Sinhô Raimundo Xexéu
Este passava por mim
Nem me tirava o chapéu
Estava correndo à toa
Deixei-o indo aos boléus

Foram pro mato dizendo
O Mão de Pau vai a peia
Se ocuparo neste dia
Só em comê mé-de-abeia
Chegaro em casa de tarde
Vinham de barriga cheia

Neste dia lá no mato
Ao tirá duma "amarela"
Ajuntaram-se eles todo
Quase que brigam mor-dela
Ficaram todos breados
Oios, pestana e capela

Quem vinhé a mim percure
Um cavalo com sustança
Ind'eu correndo oito dia
As canela não me cansa
Só temo a cavalo gordo
E vaqueiro de fiança

Eu temia ao Cubiçado
De Antônio Serafim
Pra minha felicidade
Este morreu, levou fim
Fiquei temendo o Castanho
Do sinhô José Joaquim

Mas peço ao José Joaquim
Se ele vier no Castanho
Vigi não faça remô
Qu'eu pra corrê não me acanho
Nem quero atrás de mim
De fora vaqueiro estranho

Logo obraram muito mal
Em correr pro Trairi
Buscar vaqueiro de fora
Pra comigo divirti
Tendo eu mais arreceio
Dos cabras do Potengi

Veio Antônio Rodrigues
Veio Antônio Serafim
Miguel e Gino Viana
Tudo isto contra mim
Ajuntou-se a tropa toda
Na casa do José Joaquim

Meu sinhô Chico Rodrigues
É quem mais me aperriava
Além de vir muita gente
Inda mais gente ajuntava
Vinha em cavalos bons
Só pra vê se me pegava

Vinha dois cavalos de fama
Gato Preto e o Macaco
E os donos em cima deles
Papulando no meu resto
Tive pena não nos vê
Numa ponta de carrasco

Ao sinhô Francisco Dias
Vaqueiro do coroné
Jurou-me muito pega-me
No seu cavalo Baé
Porém que temia a morte
S'alembrava da muié

Vaqueiro do Potengi
De lá inda veio um
Um bicho escavacadô
Chamado José Pinun
Vinha pra me comê vivo
Porém vortô em jijum

Veio até do Olho d'Água
Um tal Antônio Mateu
Num cavalo bom que tinha
Também pra corrê a eu
Cuide de sua famia
Vá se recomendá a Deus

Veio até sinhô Sabino
Lá da Maiada Redonda
É bicho que fala grosso
Quando grita, a serra estronda
Conheça que o Mão de Pau
Com careta não se assombra

Dois fio de Januaro
Bernardo e Maximiano
Correram atrás de mim
Mas tirei-os do engano
Veja lá que Mão de Pau
Pra corrê é boi tirano

Bernardo por sê mais moço
Era mais impertinente
Foi quem mais me perseguiu
Mas enganei-o sempre
Quem vier ao Mão de Pau
Se não morrer, cai doente

Cabra que vier a mim
Traga a vida na garupa
Se não eu faço com ele
O que fiz com Chico Luca
Enquanto ele fô vivo
Nunca mais a boi insulta

Sinhô Antônio Rodrigue
Mas seu Gino Viana
Vocês tão em terra aleia
Apois vigie como anda
Se não souberam dançá
Não se metessem no samba

Vaqueiro do Trairi
Diz. Aqui não dá recado
Se ele dé argum dia santo
Todos ele são tirado
Deix'isso pr'Antonho Ansermo
Que este corre aprumado

Quando vi Antonho Anselmo
No cavalo Maravia
Fui tratando de corrê
Mas sabendo que morria
Saiu de casa disposto
Se despidiu da famia

Vou embora desta terra
Pru que conheci vaqueiro
E vou de muda pros Brejo
Mode dá carne aos brejeiro
Do meu dono bem contente
Que embolsou bom dinheiro

Adeus, lagoa dos Veio
E lagoa do Jucá
E serra da Joana Gome
E riacho do Juá
Adeus, até outro dia
Nunca mais virei por cá

Adeus, cacimba do Salgado
E poço do Caldeirão
Adeus, lagoa da Peda
E serra do Boqueirão
Diga adeus que vai embora
O boi d'argema na mão

Já morreu, já se acabou
Está fechada a questão
Foi s'embora desta terra
O dito boi valentão
Pra corrê só Mão de Pau
Pra verso só Fabião!

(Em Cascudo, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. sl, Ediouro, sd, p.89-93)

Artista


Se eu nascese novamente e tivese o poder de escolha nasceria artista.
Novamente mau entendido!
Novamente mau interpretado!
Mais uma vez duro!
Mais uma vez imaturo!
Outra vez desacreditado!
Porém, totalmente feliz!

Mas se eu nascese outra vez
e outra vez nascese artista,
faria tudo igual.
Novamente.
Pois o artista necesita apenas do ar
De um pouco do oceano e da brisa da tarde para lubrificar suas asas facilitando o vôo.
Alimento de sua alma.

Se mais uma vez nascese,
e nascesse artista, em tudo faria igual.
Deixaria de fora apenas as dores do carnaval.

Rosinaldo Luna

12/06/2011

O turismo do "não" do presidente da FUNARTE (pago por nós, claro!)

Todos voces sabem que esse blog não é nem pretende ser politicamente correto, ecologicamente correto, nem nenhum desses modelos de nomenclaturas ultimamante impostas pela mídia. Aqui me dou o direito de postar coisas que ache interessante e que tenham fundamento, sem pretenções políticas ou pessoais. Mas se quiser, postarei elogios rasgados a quem faz arte ou outros talentos bem.
Bom, porque estou falando isso? Não sei! Mas dentre algunms blogs que sigo tem o blog que a Illana Felix escreve e dois textos me chamaram a atenção. Tomo a liberdade de aqui posta-los para todos vocês vêem como a cultura está sendo tratada nesse país. Pasmem e "chupem essa manga".

"O texto abaixo recebi na lista do Forum Potiguar Cultural, repassado por Henrique Fontes. Acho que merece divulgação, porque se for verdade que iremos pagar pelo turismo do Sr. Antônio Grassi que pelo menos ele saiba que Natal não será o seu destino mais agradável. Até porque em época de borboletas, a Cidade do Sol não é mais a mesma. Vale a leitura".




O turismo do "não" do presidente da FUNARTE (pago por nós, claro!)

Olá companheiros,

Estive hoje na Funarte São Paulo, pois houve ampla convocação afirmando que o presidente dessa instituição, Antônio Grassi, iria falar com a categoria teatral. Pela manhã foi com o pessoal do circo.Inicialmente estranhei a divisão por área, mas como sei que cada um tem suas demandas, parecia interessante. Mas após a reunião, penso que é estratégico, pois se trata "individualmente" e assim enfraquece as reivindicações coletivas.Por que digo isso?


Ao chegar, vi alguns gatos pingados, a sala que é pequena, não conseguiu se quer ter metade cheia (e dessa metade uma boa parte era composta pelos puxa sacos de plantões, que adoram autoridades e os funcionários da própria funarte), uma clara alusão de que não se acredita mais nos discursos dos empossados, pois muitos não se deram ao trabalho de comparecer.Iniciado a reunião as 15:30h, o senhor Grassi afirmou que apesar das câmaras setoriais, dos conselhos, de todos os canais de diálogo, estes não são suficientes, por isso está começando a se reunir com as categorias e começou por São Paulo.


Depois percebi que isso queria dizer o seguinte: é preciso fingir que estou dialogando com os artistas, porque a Funarte não tem projeto e pior, NÃO TEM DINHEIRO.Editais para esse ano? Esqueçam. Encaminhamento de uma política séria? Esqueçam.O orçamento do ano para a Funarte era de 120 milhões, com o contigenciamento (palavra e ação criada para dizer: não tem dinheiro para os pobres, apenas para os banqueiros - pois como sabem, a economia é para pagar juros ou socorrer os grandes empresários), enfim, com o contigenciamento restou 60 milhões. Como esse é um governo de continuidade, palavras do senhor Grassi, é preciso honrar o edital do procultura lançado o ano passado e que, estrategicamente, foi prorrogado até 10 de janeiro desse ano (ainda que muitos já tenham até estreiado os espetáculos, como foi relatado na plenária).


Enfim, vão pagar esse edital que custará 58 milhões. Façam as contas e verão quanto restará. Como lançaram editais de ocupação das salas e vinte e poucas oficinas de teatro (atenderá todo o país?), mais vinte e poucas de circo, de dança... foi-se o restante do dinheiro.Querem mais dinheiro? É preciso lutar ao lado da Funarte junto ao ministério do planejamento e da fazenda para que eles descontigenciem a nossa grande bolada! Seria cômico se não fosse trágico.


Grita: Ah mas o Mirian Muniz, que foi uma luta sua no passado, Grassi... nos diga quando será lançado?Grassi: Não será!


Outros editais como Artes Cênicas de Rua, coisa sem importância, se quer foi mencionado. (E eu confesso que não tive a menor vontade de pegar o microfone para lançar essa pergunta, pois tudo parecia tão estranho, parecia filme de Tim Burton - aliás, o cineasta é bom, o clima lá era péssimo!)


E o Prêmio Teatro Brasileiro?
É com o Congresso!


Era e é um diálogo de surdos! Falamos, revindicamos e a galera do governo finge que nos escuta. E depois dá-lhe retórica: "mas estamos dialogando, não seria pior um governo autoritário?"Preparem-se! Agora o senhor Grassi e sua equipe irá viajar pelo Brasil, tudo bancado com o nosso dinheiro, para que ele dialogue com os artistas de circo, da dança, e do teatro. Mesmo sabendo que não tem dinheiro para nada e nem tem projeto. Mas é preciso demonstrar como são DEMOCRÁTICOS.Isso me lembra um poema de Manuel Bandeira, no qual ele descreve a renúncia de Jânio Quadros e em seguida vai viajar pela Europa, finalizando com: "E os pobres que se danem!"


Companheiros, a dependermos desse governo, o teatro de grupo se extinguirá! Anunciem aos quatro ventos: TEATRO DE GRUPO. PERIGO DE EXTINÇÃO DA FAUNA BRASILEIRA!Mas eu sou uma voz pessimista. Havia outros companheiros, Danilo e Renata, quem sabe eles não tem notícias melhores? Pois eu se quer aguentei até o final, sai meia hora antes dos abraços e dos apertos de mãos cordiais.


Há braços
Pernas
E atiradeiras!


Para aonde vão 227 milhões do MinC?

O maior choro da Ana de Hollanda, desde o começo do ano, era que o orçamento do MinC tinha sido cortado drasticamente e restado apenas 60 milhões de reais. E o que é esse aporte orçamentário de 227 milhões que nunca foi falado na história deste país?


DECRETO DE 9 DE JUNHO DE 2011
Transfere dotações orçamentárias constantes do Orçamento Fiscal da União, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para o Ministério da Cultura, no valor de R$ 227.000.000,00.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e tendo em vista a autorização contida no art. 66 da Lei n. 12.309, de 9 de agosto de 2010,
D E C R E T A :
Art. 1. Ficam transferidas, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para o Ministério da Cultura, dotações orçamentárias constantes do Orçamento Fiscal da União (Lei no. 12.381, de 9 de fevereiro de 2011), no valor de R$ 227.000.000,00 (duzentos e vinte e sete milhões de reais), de acordo com os Anexos I e II deste Decreto.
Art. 2o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 9 de junho de 2011; 190da Independência e 123o da República.
DILMA ROUSSEFF
Miriam Belchior

Publicado aqui


Atualização 1:

Recebo informação agora de Henrique Fontes, de uma fonte segura, que esse remanejamento é para fazer face aos investimentos do PAC. Nossa, então agora fiquei mais transtornada ainda.

Quem não ouviu falar das lindas PRAÇAS DO PAC, que serão construídas pelo Governo Federal e entregue aos Municípios contemplados por edital para instalação de espaços culturais em áreas com IDH baixo?

A intenção é ótima. A prática é PÉSSIMA. Alguém conhece a historinha de um Governo Estadual que saiu construindo dezenas de Casas de Cultura e repassando suas administrações para governos municipais? Aonde foi terminar essa história? Casas de Cultura fechadas, mofadas e abandonadas em grande maioria. As exceções são as que estão funcionando até agora, ainda que com parca atividade cultural.

O município de Natal mantém, desde o início dessa gestão, três espaços culturais inativos: o Teatro Sandoval Wanderley, o Espaço Jesiel Figueiredo e o Memorial Natal. Sabem quantos servidores efetivos existem para esses espaços? NENHUM.

A prefeitura não consegue manter pessoal (estou falando de porteiro e zelador, não estou falando de bibliotecária porque seria luxo demais), água, luz, telefone dos espaços que tem, aí agora, por causa dessa Praça do PAC no bairro de Nossa Senhora da Apresentação virão anjos tocando arpas e anjas dançando ballet para serem a programação cultural do lugar? Porque verba para manter programação cultural nesse PACzinho NÃO TEM. Se alguém disser o contrário, é história da Carochinha. É um novo elefantinho branco que eu e você iremos trabalhar muito, pagar muito imposto, para construir e ver mofar. Quer ver?


Atualização 2:
A única biblioteca municipal de Natal, a Esmerado Siqueira, até hoje não tem um(a) bibliotecário(a) concursado como prevê a norma que rege a profissão em questão.

Transcritdo POPORRI de Illana Felix