26/06/2011

Dinheiro parado Greve dos servidores da Fundação José Augusto tem atravancado análise dos projetos da Lei Câmara Cascudo



O caderno MUITO da Tribuna do Norte deste sábado trouxe uma matéria do  Sérgio Vilar sobre a situação da Fundação José Augusto. Vejam em que pé está o tratamento dado à  nossa cultura por parte do governo do estado. Parece que o exemplo de Mossoró, gestão Rosalba Ciarline, ficou pra traz. E olhem que muitos artistas deram seu voto pensando em ver o movimento cultural do estado tomar um impulso. O fundo estadual de cultura, que tem orientação do governo federal para destinar 1,5% da arrecadação ficou em apenas 1%. E por aí vai. Leiam a matéria e chupem essa uva. Com caroço!

Rosinaldo Luna
 
Muito
Edição de sábado, 25 de junho de 2011 

Dinheiro parado.Greve dos servidores da Fundação José Augusto tem atravancado análise dos projetos da Lei Câmara Cascudo.                                                                     Sérgio Vilar // sergiovilar.rn@dabr.com.br

A greve na Fundação José Augusto (FJA) tem comprometido a análise dos projetos encaminhados para concorrer aos recursos da Lei Estadual Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura. A comissão normativa responsável pela análise, eleita em abril, sequer foi convocada para qualquer reunião. O atraso acarreta redução do período já considerado curto de dois anos para captação dos recursos junto às empresas - a tarefa mais complicada no processo.


Paralisação diminui tempo para captação de recursos junto a empresas Foto:Fábio Cortez/DN/D.A Press
"Quando a greve terminar (sequer tem havido diálogo entre servidores e governo) vamos tentar um mutirão pra ver se a coisa anda mais rápida ou os R$ 6 milhões da renúncia podem ficar comprometidos", estima a produtora cultural Danielle Brito, uma das quatro representantes da comissão normativa da Lei Câmara Cascudo, composta ainda por Francisco Alves, o músico Paulo Sarkis e o produtor Dorian Lima.

Enquanto permanece a greve, a classe artística está desamparada pelo governo. Além da análise parada dos projetos concorrentes à Lei, aindase espera o prometido Fundo Estadual de Cultura - principal promessa de campanha da governadora Rosalba Ciarlini. A Secretaria Extraordinária de Cultura já fez o que lhe cabe: a elaboração dos estudos e entrega aos responsáveis para colocar o projeto em apreciação n
a Assembleia Legislativa.

O projeto do Fundo Estadual prevê arrecadação de 1% sobre determinados tributos, a exemplo do ICMS. A fórmula já é conhecida no Estado, quando foi criado o Fundo da Ciência e Tecnologia - pasta antes ocupada pela atual secretária da cultura, Isaura Rosado. A estimativa de recursos, se tomada a referência do ano passado, é de R$ 30 milhões (o Fundo Municipal de Cultura dispõe de R$ 400 mil).

Isaura Rosado detalha que os recursos do Fundo serão repartidos de forma igual. Metade será direcionada a Natal e Grande Natal, e outra metade ao interior. Metade desse valores também terão destinação já prevista no projeto. Serão empregados em bibliotecas públicas, museus, bandas de música e patrimônio arquitetônico. "São áreas pouco assistidas pelo governo que carecem desses recursos. O resto, entre 40% e 50%, serão investidos mediante publicação de editais", adiantou a secretária.

Projetos aprovados
Para se ter ideia da dificuldade na captação dos recursos junto às empresas após a aprovação dos projetos pela comissão da Lei Câmara Cascudo, dos R$ 4 milhões da renúncia do ano passado (este ano aumentou para R$ 6 milhões), foram captados menos de R$ 3 milhões. O restante dos projetos prescreveu por falta de empresa interessada no patrocínio. E mais de 75% do patrocínio conseguido se deu por apenas uma financiadora: a Cosern. "O resto das grandes empresas migraram para os editais nacionais. Aqui no RN, sobrou praticamente a Cosern", lamenta o produtor cultural Dorian Lima.


25/06/2011

Ricky Martin: "Quem vai a meus shows se sente uma pessoa melhor"

O cantor fala com orgulho de sua turnê 'mais completa' já realizada



Foto: Divulgação Ampliar
Ricky Martin
Prestes a realizar a etapa espanhola de sua turnê "Música + Alma + Sexo (MAS)", sua favorita e a "mais completa" de sua carreira, Ricky Martin não esconde o orgulho pelo trabalho. "Todo mundo que vai ao show me diz que se sente uma pessoa melhor", disse o porto-riquenho.
"Estou em um momento muito diferente de 15 anos atrás. Sinto-me um pouco mais relaxado; que não tenho que provar nada a ninguém e, desta forma, tudo acaba fluindo naturalmente", afirma.
Contudo, essa tranquilidade não significa que o nível de exigência vai ficar comprometido - "é nos detalhes que fazemos a diferença", destaca - ou que "alegria e adrenalina" fiquem de lado.
"MAS" começa com "Será, será", "uma música dirigida aos marginalizados do mundo, um grito revolucionário".
Trata-se das décadas de 1980 e 1990, época que marca a influência do "estrangeirismo" na carreira de Martin, ou seja, seu salto ao mundo anglo-saxão. Uma fase dominada por sucessos como "Livin' la Vida Loca", "Shiki Boom Boom" e outros.
Um momento do show mais acústico, cheio de baladas, dará passagem ao momento mais "intenso", "quando apresentaremos alguns fetiches para fazer justiça ao show", diz o cantor, em referência à parte sexy do título.
"Eu gosto de provocar e o espetáculo é muito alegre, muito cabaré e bastante criativo", acrescenta este "latin lover", que afirma que "o erótico aparece de uma maneira muito artística, com muito bom gosto e classe".
Depois disso o show encerra com um "clima de carnaval", como descreve, com um som afroantilhano.
Martin tem recebido boas críticas da mídia de Nova York, Canadá, Los Angeles e México, entre outros lugares, mas a Espanha tem um significado especial para o artista.
"A Espanha foi meu trampolim para o resto do continente europeu, foi o país que me ajudou. Estarei eternamente agradecido. Pelo menos uma vez ao ano tenho que passar por aqui", diz o cantor.
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Fonte: iG Gente

Curssos on line 24 horas

Estive pensando esses dias sobre as facilidades e conveniências dos dias modernos. Não faz muito tempo, estudar era uma aventura antes de aqualquer coisa. Hoje, com internet tudo parece estar masi fácil e acessível. As faculdades e cursos superiores invadiram os centros urbanos, das pequenas cidades aos centros urabanos mais importantes do país. e nesses mesmos lugares, quem não tem condições de frequentar um curso normal, seja por condições dinanceiras ou de acessibilidades, ou por contições físicas ou por falta de oferta no curso desejado em sua cidade pode optar pelos cursos á distância. Um canal fantástico para quem deseja acesso ao conhecimento.Um conhecimento que precisa ser seguido de muita disciplina e compromisso pessoal, pois só depende do aluno a absorvição do conteúdo.

os cursos EAD estão fazendo muito sucesso justamente pela possibilidade de estudar no tempo qu enos dispomos, em horarios alternativos e vinte e quatro horas por dia. Esta maleabilidade dá ao aluno a possibilidade de trabalhar e estudar sem que uma atividade interfira na outra.

Os cursos a dsitância atraem principalmente profissionais que já estão com carreiras consolidadas e buscam aprimoramento ou novas possibilidades. Este cursos ajudam e muito no enrriquecimento do currículum de profissionais de todos os níveis e carreiras.

Se estiver pretendendo fazer um curso via internet vai alguns link's para facilitar sua busca.
Bons estudos e sucesso.

http://www.cursos24horas.com.br/parceiro.asp?cod=promocao41524&id=41835

Rosinaldo Luna

É revelada a capa do misterioso livro ‘Dolce & Gabana’ com fotos inéditas de Madonna



Uma imagem em melhor qualidade da tão especulada capa do misterioso livro da Dolce & Gabana caiu na internet essa semana. Para quem ainda não ouviu falar, trata-se de um livro que traz fotos inéditas e exclusivas de todas as campanhas de Madonna junto a grife, clicadas por Steven Klein.
Sem nenhuma notificação oficial, a empresa se faz de desentendia e afirma que esse material não existe. No entanto, se alguém encontrá-lo, ganhará a coleção completa de roupas da grife.
O que vocês acham, é marketing da dupla ou o livro não passa de um projeto visionário de algum fã louco pela estrela?
 Fonte: blog Ponto Zero.

Vida


Vida
É o amor existencial.
Razão
É o amor que pondera.
Estudo
É o amor que analisa.
Ciência
É o amor que investiga.
Filosofia
É o amor que pensa.
Religião
É o amor que busca a Deus.
Verdade
É o amor que eterniza.
Ideal
É o amor que se eleva.
É o amor que transcende.
Esperança
É o amor que sonha.
Caridade
É o amor que auxilia.
Fraternidade
É o amor que se expande.
Sacrifício
É o amor que se esforça.
Renúncia
É o amor que depura.
Simpatia
É o amor que sorri.
Trabalho
É o amor que constrói.
Indiferença
É o amor que se esconde.
Desespero
É o amor que se desgoverna.
Paixão
É o amor que se desequilibra.
Ciúme
É o amor que se desvaira.
Orgulho
É o amor que enlouquece.
Sensualismo
É o amor que se envenena.
Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do amor, não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente.


SONETO CV


Não chame o meu amor de Idolatria
Nem de Ídolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo.
 
É hoje e sempre o meu amor galante,
Inalterável, em grande excelência;
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença.
'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento;
E em tal mudança está tudo o que primo,
Em um, três temas, de amplo movimento.
'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora.

William Shakespeare
VIRGENS À DERIVA
de Ruy Jobim Neto
(C) Ruy Jobim Neto
Registro na Biblioteca Nacional sob no. 461.919 (23/06/2009)



(da esq. para a dir., Vanessa Morelli, Débora Aoni e Fernanda Sophia em cena de "Virgens à Deriva", na Livraria da Vila, São Paulo. foto: Will Prado)
"Virgens à Deriva" foi apresentada pela primeira vez no 1o. Festival de Cenas Cômicas do Espaço Parlapatões, em São Paulo, no dia 24 de março de 2007, sob direção do autor, pela Cia. 011, com trilha sonora original de Gerson Grünblatt, figurinos de Katia Niman, co-direção de Vanessa Morelli, adereços e cenografia de Ruy Jobim Neto e tendo na composição do elenco original:
PERSONAGENS:

Maria Teresa........Vanessa Morelli

Eusébia......Débora Aoni

Amália........Fernanda Sophia

CENA
um bote imaginário, no palco. O cenário é o mar, na costa brasileira. Muito sol. Calor tropical, muy provavelmente da costa da Bahia. Três moças estão remando, suando, respirando com dificuldade, limpando o suor dos rostos com os bracinhos, enquanto a luz vai abrindo em resistência.

ÉPOCA – em algum ponto da história colonial brasileira, a ser descrito pelas personagens.
No YouTube : parte 1 e parte 2

PERSONAGENS:

Maria Teresa
Eusébia
Amália


(enquanto remam, Maria Teresa faz uma breve pausa. Pega um papel que leva consigo, tirando de algum bolsículo do vestido. Pega um pote de tinta e uma pena. Relê para si uma parte, não gosta,abre o pote, leva a pena até ele e depois, no papel, reescreve com dificuldade – por causa da deriva - e sopra para secar a tinta. E finalmente começa a ler)



MARIA TERESA (lê como narradora)

- No ano da Graça do Senhor de Mil Quinhentos e Sessenta e Sete, mais precisamente numa terça-feira, à tarde, muitos homens e religiosas, canhões e mantimentos, foram para o fundo das águas e alguns deles até viraram comida de tubarões e de fabulosos monstros marinhos. De tudo, sobrou apenas um bote, ocupado por três belas raparigas, a saber: Maria Teresa, musa inspiradora de poeta trovador, Amália, filha única de traficante negreiro dos Açores e Eusébia, a mais novinha dentre as três, e que é pura e simplesmente filha de dono de uma formosa quinta na Beira. Todas virgens, virgens, sozinhas e náufragas a caminho da costa do Brasil . (à parte) Para facilitar a perfeita compreensão dos senhores presentes, a partir do nosso português arcaico, fizemos uma versão para as platéias contemporâneas, o que dispensa tecla SAP. (volta a ler a carta) Beijos desta que muito anseia por novidades nesta vida. Maria Teresa Aljubarrota. (à parte) Eu!

AMÁLIA –

Ai, Jesus, Maria, José! Que carta é essa, Maria Teresa?

EUSÉBIA –

Uma carta para a posteridade!

AMáLIA –

Eu não sabia que você sabia escrever.

MARIA TERESA –

Sei ler e escrever, ora pois.

EUSéBIA –

Uma carta para ser descoberta!

AMÁLIA –

É! Descoberta junto com os corpos de três virgens mortas! Mortas e perdidas no meio do Atlântico!

EUSéBIA –

Ai, Deus me livre e guarde (faz o sinal da Cruz ), Amália! Que pensamento funesto!

AMáLIA –

Funesto?

MARIA TERESA –

(explode alegremente) Que funesto destino aguarda estas três jovens virgens? (volta a escrever, lendo em voz alta) Quiçá encontrem vida inteligente, em terras do Brasil. Afinal, não é lá que em se plantando tudo dá? (pensa) E se plantarmos amor e aconchego? Dará no quê?

EUSÉBIA –

Maria Teresa, que insânia! Você pegou muito sol na sua cabeça, foi?

AMÁLIA –

Por que vocês duas não voltam a remar, ao invés de ficarem aí, falando sobre o nada?

MARIA TERESA –

Mas não é sobre o nada!

EUSÉBIA –

Não me parece que é sobre o nada.

AMÁLIA –

Só eu que não perdi a minha cabeça, aqui, nessas águas? Escutem vocês duas! Vamos remar que é melhor, por que ainda tem muita água até chegar naquela praia.

EUSÉBIA –

(olha e sorri) A praia...

MARIA TERESA –

(olha e aponta) Praia à vista! Vamos remar, todas!

AMÁLIA –

(respira fundo) Até que enfim!

(gesticulam as três, como se estivessem com os remos pesados)

TODAS –

Rema, rema, rema, rema, rema...

EUSÉBIA -

(começa a rezar rapidamente, desesperadamente)

Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que jamais se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à Vossa proteção, implorado por Vosso socorro e invocado Vosso auxílio, fosse por vós abandonado. Animadas, pois, com igual confiança a vós recorremos, ó Virgem das Virgens, não desprezais as nossas súplicas, oh, mãe do Verbo encarnado, mas dignai-vos propícia atendê-la. Amém.

AMÁLIA e MARIA TERESA -

(cortantes) Espera! ....Respira!.... Começa de novo!

TODAS -

(respiram profundamente. tempo. começam a rezar juntas e lentamente com cara de carola, piscando olhando pra cima)

Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que jamais se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à Vossa proteção, implorado por Vosso socorro e invocado Vosso auxílio, fosse por vós abandonado. Animadas, pois, com igual confiança a vós recorremos, ó Virgem das Virgens, não desprezais as nossas súplicas, oh, mãe do Verbo encarnado, mas dignai-vos propícia atendê-la. Amém.

(respiram. tempo. voltam a remar)

MARIA TERESA –

E se cantássemos uma canção?

AMÁLIA –

Ai... Que canção, Maria Teresa?

EUSÉBIA –

Uma canção! Como as que a Madre Superiora cantava para a gente, nos ofertórios! Ah, cada uma mais linda que a outra!

MARIA TERESA –

Uma cantiga trovadoresca! ... Tal qual meu amigo cantava para mim, em seu alaúde...

EUSÉBIA –

Eu adorava ouvir...

AMÁLIA –

Uma canção não precisa ser tão... (ri) tão casta assim...

MARIA TERESA –

Uma cantiga de amigo!

EUSéBIA –

O Cântico dos Cânticos! (dá um tempo e começa a declamar, também se excitando)
Sua boca me cubra de beijos!
São mais suaves que o vinho tuas carícias,
e mais aromáticos que teus perfumes
é teu nome, mais que perfume derramado;
por isso as jovens de ti se enamoram.
Leva-me contigo! Corramos!
O rei introduziu-me em seus aposentos

(suspira fundo, treme, quase arrepiando)
(sorri tranqüila, ao final)


MARIA TERESA –

(excitando-se, à medida que declama, as outras olham)

Dizía la fremosinha:
«ai, Deus, val!
Com'estou d'amor ferida!
ai, Deus, val!

Dizía la ben talhada:
«ai, Deus, val!
Com'estou d'amor coitada!
ai, Deus, val!

«Com'estou d'amor ferida!
ai, Deus, val!
Non ven o que ben quería!
ai, Deus, val!

«Com'estou d'amor coitada!
ai, Deus, val!
Non ven o que muit'amava!
ai, Deus val!

(recompõe-se, sorri)

AMÁLIA –

(tempo) Vocês estão inspiradas, hein?

EUSÉBIA –

Você deve ter um grande sonho de amor, não tem, Amália?

MARIA TERESA –

Ela tem, sim!

EUSÉBIA –

Ai, conta!

AMÁLIA –

O que vocês sabem? O que vocês sabem, pergunto eu? Enquanto estamos aqui, no meio deste mar, quase chegando naquela praia, ali, (Eusébia olha em direção à praia), com este sol imenso em cima de nossas cabeças... O que é que temos? Digam?

MARIA TERESA –

(cai em si) Somos virgens.

AMÁLIA –

Virgens! Somos tão virgens quanto possivelmente aquelas matas ali, que a gente vê daqui deste bote! Não sabemos nada do amor, da vida, dos prazeres carnais! Não sei se um dia viremos a saber! Tudo o que tínhamos ficou naquele navio naufragado, lá atrás. As freiras que vinham conosco agora estão mortas, possivelmente destroçadas por tubarões. Os marinheiros que comandavam aquela caravela agora não passam de meros fantasmas de si mesmos! E nós, aqui? O que somos? O que temos?

(Eusébia vê algo na praia, enquanto Amália segue falando)

AMÁLIA –

Não somos nada! Se um tubarão nos devorar agora, será muita a nossa sorte! Se chegarmos vivas naquela praia, com certeza estaremos condenadas ao degredo, à velhice sem ter conhecido os prazeres da carne, à morte por doença, por fome, por solidão!

MARIA TERESA –

Eu não quero morrer por solidão!

EUSÉBIA –

(de sopetão) Tem um homem na praia!

(todas olham)

EUSÉBIA –

Um homem vestido! (leva outro sopetão) E agora tem um outro homem, também! E está nu! Um homem nu, na praia!

(a partir deste momento, as três moças permanecem olhando em direção à praia)

AMÁLIA –

Uma canção não precisa ser tão...tão casta assim....

EUSÉBIA –

É muito maior do que nos sonhos de qualquer uma de nós!

MARIA TERESA –

Tem uma elevação! É maior que a própria vida! É a glória!

AMÁLIA –

No meu sonho de amor ... (as outras olham lentamente para Amália) ... Eu vislumbrava um navio, sempre um navio, como aqueles que meu pai possui, para traficar escravos... Eu vislumbrava este navio, que aparecia no meio de uma bruma... E dentro dele havia apenas homens...

EUSÉBIA –

Nus?

AMÁLIA –

Não. Havia apenas homens. Eles não possuíam rosto, eram apenas homens. E por serem apenas homens, sem rosto, eles vinham em minha direção. E me acariciavam... Eles me beijavam em todo o meu rosto, me arfavam pela nuca, me enlouqueciam o pescoço (fecha os olhos, sente o próprio sonho), desciam suas mãos fortes e quentes sobre o meu colo, e levantavam um dos meus seios... Beijavam um dos meus seios ... (em "seios", Maria Teresa tira uma luneta de um bolsículo de seu vestido, e começa a olhar em direção à praia). E eu gemia... Eu gemia! Os impulsos deles eram tão vigorosos, que não havia a necessidade de eles estarem nus para eu imaginá-los... E eu os imaginava...

EUSÉBIA –

Imaginava como?

AMÁLIA –

(de olhinhos cerrados) Eu os imaginava devastando meus tecidos, minhas composições, todo o meu substrato, todo o meu cerne! Eu não possuía mais nome, simplesmente não sabia mais de onde eu vinha, eu não queria mais coisa alguma...

EUSÉBIA –

Eu sei como é... ( Amália abre os olhos, Eusébia sorri para ela) Você se sente viva! É assim que eu quero me sentir, também! (torna a olhar para a praia) E vendo essas possibilidades... Possibilidades infinitas, presumo eu (olha para Amália), você começa a acreditar no seu próprio sonho de menina. (retorna o olhar em direção à praia) Você começa a pensar que tudo aquilo que você é tem um sentido... É como se soubéssemos, de antemão, a que viemos... (sorri) Porque fazemos parte do universo... Porque somos mulheres... É como se soubéssemos a resposta... Na ponta de nossas línguas...

(Maria Teresa abaixa a luneta, sorri marota)

MARIA TERESA –

Senhoras... Tomem os seus assentos... Vamos remar para a vida.

(todas, sorrindo, se posicionam no bote)

TODAS –

Rema, rema, rema, rema, rema...

MARIA TERESA –

Senhoras?... E se cantássemos uma canção?

(todas sorriem docemente, remam com vontade, a luz cai em resistência)


FIM 
Este texto não deve ser montado sem autorização do autor. O não cumprimento desta determinação pode acarretar medidas legais.

Hoje eu quero viver!



Hoje eu quero viver.
E viver hoje para mim, é estar ao seu lado.
É sorrir ao seu lado, dormir e acordar ao seu lado.

Para mim hoje, viver
É sentir sua boca, e morder sua lingua
Visitar suas entranhas e te fazer minha.

Para viver hoje em mim,
só precisa uma piscadela,
Uma desculpa amarela e um sorriso marfim.

Quero hoje viver você,
E em voce sentir o amor,
sentir o amor sendo amado,
cheirando seu cheiro,
morrendo em você,
dentro de voce atingir o clímax
e fazer-te sentir, o que sou pra voce.

Rosinaldo Luna.

22/06/2011

Eita! ... É noite de São João!!!

Hoje é noite de São João
Vai amanhecer o dia. 
É madrugada 
E não chegou que eu queria.

É madrugada 
Até agoa nada
Meu bem não apareçe.

Pois é, as adivinhações de casamento, os castigos pro Santo casamenteiro, oa brincadeiras em redor da fogueira. Tudo isto já está ficando esquecido no tempo.
Lembro ainda criança, do milho assado na brasa, as comidas típicas, a confraternização em torno da fogueira. Era um verdadeiro derramamento de cultura no povo, inocente como é a cultura e o povo.
Naquele tempo, e não faz tanto tempo assim, dava-se mais valor às brincadeiras quea os tumultos dos grandes shows, já haviam sim, mas de forma mais modesta.

O grande embalador da noite era sem dúvida o Seu Luiz Gonzaga, que para a turma que infelizmente não conheceu o bom forró, talvez não saiba quem foi o rei do baião e o tamanho de sua importância para a cultura brasileira, e principalmente par a cultura nordestina. Seu Luiz levou para o mundo nossas tradições e cultura, foi por seu intermédio que o povo do nordeste ficou conhecido e apartir daí, pela sua tradição e diversificada cultra.

Como todo nordestino que migrou para o sudeste em busca de novas perspectivas, seu Luiz foi levando no matulão (sacola feita de saco de estopas) sua sanfona, como relata em música:

"Quando eu vim do sertão seu moço do meu brodocó,
minha mala era um saco, e o cadeado era um nó". 

Foi futurar, como se fala, e conseguiu se afirmar como um dos maiores artistas brasileiros. Um rei, com uma coroa em forma de cahpéu de couro. Um orgulho para o povo nordestino. Mas hoje, a qualidade prezada pelo rei, caiu na futilidade das letras sem sentido, onde impera a pornografia, os grupos e bandas, e bundas, apelativas e vulgares.

Essa semana estava passando na rua, em Parnamirim, e li numa frase" Arraiá das Primas" em alusão à casa das primas. Pow, todo mundo sabe que "primas" no caso da música é uma maneira grosseira de citar as prostitutas que lutam e sofrem os doces oficios das damas da noite. Agora ninguém, acredito, num país tão preconceituoso, quer ver uma filha "prima". Pelo preconceito e pelo sofrimento. O mesmo rapaz que quer ir dormir na casa das primas outro dia, queria botar fogo no cabaré e por aí vai.
Diferença das letras de seu Luiz:

" Olha pro céu meu amor,
Vê como ele está lindo. 
Olha praquele balão multi-cor
Que lá no céuu vai subindo. 

Pura poesia, muita saudade das minhas noites de São João. Do São João do carneirinho, as mães faziam questão de dizer quem foi e qual a importância desse personagem na vida do salvador.
Voce sabe? Então me responda.
Quem foi São João?
E porque se acende a fogueira?

Viva são João,
Vamos comemorar, comer canjica, pamonha, quentão, vamos ser compadre de fogueria, padrinho de fogueira e namorar no quentinho da fogueira de São João, com as bençãos de Santo e Antonio e confirmação de São Pedro.

"E São João disse e 
São Pedro confirmou
Que voce fosse meu compadre 
Que Jesus Cristo mandou".

Rosinaldo Luna.





Ruínas de teatro em Parnamirim


Quem trafega pela avenida que margeia o parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, não tem como fugir da visão macabra que adorna a entrada do condomidio Jockey Clube.
Uma estrutura imensa, sendo corroída pelo tempo, pela exposição ao sol, chuva e demais caprichos da natureza. Um prédio alto, imponente que serve tão somente para abrigar marginais, dependentes de drogas e assaltentes. Infelizmente este préido é onde deveria estar funcionando o teatro de Parnamirim. Não este que a prefeitura tanto alarda que vai construir, e que deve iniciar as obras agora em Julho, mas o teatro que já foi pago pelos mutuários de sistema COPAB. O empreendimento residencial Jockey Clube e outros construidos pela tal construtora, contemplava um teatro, e por sorteio o condomínio e residencial Jockey Clube ganhaou o tal problema, digo prédio. Ótimo... vibração, parabéns, aplausos, discurssos e só, só, somente só...
O povo ficou a ver navios, ou melhor, a ver o prédio ser depredado, furtado, massacrado e desgastado pelo tempo.
A prefeitura, através da ex presidente da Fundação Parnamirim de Cultura, tentou junto com a construtora retomar as obras, mas, não deu em nada, pois segundo representantes da funcação a empresa não quis aderiir ao acordo proposto. O fato é que o prédio está se acabando lá, e se os artistas não tomarem a frente e começarem a se modibilzar não vai sair nunca o teatro.
Numa região tão carente de equipamentos como é a região metropolitana de Natal, onde a cidade de maior ICMS do estado não tem siquer um cinema, não podemos deixar aquela esturtura se acabar a esmo.
È preciso que os artistas que moram em Parnamirim e região metropolitana dêem as mãos e saiam nas ruas chamando a atenção para tal. É preciso que se faça um movimento para chamar a atenção, da mídia, da comunidade, dos políticos para que talvez, tenhamos o teatro concluído e funcioando. Só assim para conseguirmos isto.
Portanto, se você é artista, ou não, se você participa de um grupo de jóvens, associação comunitária, ou agremiação esportiva, leve essa proposta para seu grupo. Indaguem seus pais, professores, amigos, colegas de trabalho, sizinhos o que pode ser feito para que a construção sais das ruinas e os artistas e comunidade possam disfrutar do teatro finalmente.
Sugiram uma data para encontrar o maior número de gente e artistas possíveis nas ruínas, vamos marcar com a imprensa, com as autoridades e fazermos um auê, vamos tentar?
Que compartilhar com essa ideia é só comentar e deixar o contato, ou entrar em contato comigo pelo email: luna-natal@hotmail.com, eu entro de cabeça.

Rosinaldo Luna.

21/06/2011

Diana Fontes.wmv

Diana Fontes.

Hoje eu publicquie um comentário sobre um vídeo da Diana Fontes sendo entrevistada pela Margot do RN Tv. Belíssimo quadro que mostra nossos artistas de forma honesta e generosa. E isto tem dado um bom movimento. Na entrevista, ela fala sobre sua vida, sua carreira, suas expectativas. Tudo leve e deliciosamente regido pelo talento não menos competente da Margot.
Mas já que tem repercurtido tanto, quero lembrar de outros nomes que ali pasaram: A maravilhosa Chrystal, Dorgival Dantas, Glorinha Oliveira, Rodolfo amaral, Valéria Oliveira, Waldonis além de mestres da cultura popular, artistas das mais diversas linhas e talentos.
Mas realmente, a entrevista de Diana foi muito boa. E comparando, sou fã das duas, Diana e Chrystal, deixo empate.
É muito bom ver que o artista está sendo mostrado com tanto respeito e carinho. Parabens Margot; parabens a inter tv; aos entrevistados.
Resta a nós prestigiarmos esse seres encantados que preenchem nossas almas de magia e emoção.

Rosinaldo Luna

19/06/2011

ShoppingsXteatros


Há um tempo que tenho pensado em uma coisa!
Uma música do Milton Nascimento diz "Todo artista tem de ir aonde o povo está!"
Essa frase me faz pensar que o povo está nos shoppings center's,. Se nós artistas, amadores ou não, queremos públcio temos que usarmos os espaços onde o povo vai, os espaços dos shopping's Diariamente uma grande massa circula pelos coredores dos centros comerciais. E esse povo está ali às vezes querendo outros olhares, absorver outros conhecimentos que não comprar.
Além de que, no shopping temos a impressão que estamos seguros, temos estacionamento, quando saimos do teatro temos sempre um restaurante, uma lanchonete, uma shopperia para darmos a esticadinha de praxes.
Mas falta aí, salas de espetáculos. Os empreendimentos são inaugurados com várias, muitas salas de cinema sem contudo, destinar um espaço desses ao teatro.
Se nós artistas e produtores queremos manter e/ou criar platéia temos que criá-la nesses espaços, e uma maneira de exigirmos isso é pressionando os órgãos públicos em criar mecanismos para que torne-se obrigatório os grandes empreendimento comerciais a destinação de espaços para salas de espetáculos.E depende de nossa união para essa idéia seja implementada.

Gostaria de convidá-los a promover essa discurção via redes sociais e ver até onde iriámos com essa idéia.
A proposta é que cada shopping com mais de tres sals de cinema ofereça uma para teatro, e shoppings com mais de seis salas obrigatoriamente teria que ter um teatro, a ainda mais , projetos  para formação de platéia, onde seriam vendidos ingressos para espetáculos a preços populares em dias e horários específicos. Nesses dias também os valores de pautas seriam populares, facilitando assim aos grupos de teatro que estão iniciando suas atividades, amadores ou não, mostrarem suas produções.

Principalmente no nordeste onde a população é carente de tudo, poucos são os que podem pagar um ingresso de R$ 100,00, R$ 200,00 para assistir umespetáculo teatral ou um show, esse mecanismo ofereceria à este público acesso a cultura de forma que o valor do ingresso não viesse a onerar o orçamento familiar. Teríamos mais gente frequentando os teatros, e futurametne mais platéia.
Aí está a berta a sugestão. Comente esse pensamento e vamos à luta!!!

By
Rosinaldo Luna
OBS> Gostaria de ver a opinião de todos voces. Comentem e compartilhem esse artigo com os seus amigos e peça para comentarem também se acham que o pensamento é cabido, se acham que não tem futuro, comentem também. O importante é saber a opnião de todos que leem e seguem o blog.
Obrigado.

17/06/2011

Romance do boi da Mão de Pau


 

Romance do boi da Mão de Pau

Fabião das Queimadas (Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha) 1848-1928. Rio Grande do Norte.

Vou puxar pelo juízo
Para saber-se quem sou
Prumode saber-se dum caso
Tal qual ele se passou
Que é o boi liso vermelho
O Mão de Pau corredor

Desde em cima, no sertão
Até dentro da capitá
Do norte até o sul
Do mundo todo em gerá
Em adjunto de gente
Só se fala em Mão de Pau

Pois sendo eu um boi manso
Logrei a fama de brabo
Dava alguma corridinha
Por me ver aperiado
Com chocalho no pescoço
E além disto algemado...

Foi-se espalhando a notícia
Mão de Pau é valentão
tendo eu enchocalhado
Com as algemas nas mão
Mas nada posso dizer
Que preso não tem razão

Sei que não tenho razão
Mas sempre quero falá
Porque alé d'eu estar preso
Querem me assassinar...
Vossa mercês não ignorem
A defesa é naturá

Veio cavalos de fama
Pra correr ao Mão de Pau
Todos ficaram comido
De espora e bacalhau...
Desde eu bezerro novo
Que tenho meu gênio mau

Na serra de Joana Gomes
Fui eu nascido e criado
Vi-me morrer lá pro Salgado
Daí em vante os vaqueiro
Me trouveram atropelado...

Me traquejaram na sombra
Traquejavam na comida
Me traquejavam nos campo
Traquejavam na bebida
Só Deus terá dó de mim
Triste é a minha vida

Tudo quanto foi vaqueiro
Tudo me aperriou
Abaido de Deus eu tinha
Fabião a meu favor
Meu nego, chicota os bicho
Aqueles pabuladô

Pegaram a me aperiar
Fazendo brabo estrupiço
Fabião na casa dele
Esmiuçando por isso
Mode no fim da batalha
Pude fazê o serviço

Tando eu numa maiada
Numa hora d'amei-dia
Que quando me vi chegá
Três vaqueiro de enxurria
Onde seu José Joaquim
Este me vinha na guia

Chegou-me ali de repente
O cavalo Ouro Preto
E num instante pegou-me
Num lugá até estreito
Se os outro tiveram fama
Deles não vi proveito

Ali fui enchocalhado
Com as algemas na mão
Butado por Chico Luca
E o Raimundo Girão
E o Joaquim Siliveste
Mandado por meu patrão

Aí eu me levantei
Saí até choteando
Porque eu tava peiado
Eles ficaram mangando
Quando foi daí a pouco
Andava tudo aboiando...

Me caçaram toda a tarde
E não me puderam achar
Quando foi ao pôr-do-sol
Pegaram a se consultar
Na chegada de casa
Que história iam contar

Quando foi no outro dia
Se ajuntaram muita gente
— Só pra dar desprezo ao dono
Vamos beber aguardente
Pegaram a se consultar
Uns atrás, outro agüente

Procurei meu pasto veio
A serra de Joana Gome
Não venho mais no Salgado
Nem que eu morra de fome
Pru que lá aperriou-me
Tudo o que foi de home

Prefiro morrer de sede
Não venho mais no Salgado
No tempo que tive lá
Vivi muito aperriado
Eu não era criminoso
Porém saí algemado

Me caçaram muito tempo
Ficaram desenganado
E eu agora de-meu
Lá na serra descansado
Acabo de muito tempo
Vi-me muito agoniado

Quando foi com quatro mês
Um droga dum caçadô
Andando lá pulos matos
Lá na serra me avistou
Correu depressa pra casa
Dando parte a meu sinhô

Foi dizê a meu sinhô
— Eu vi Mão de Pau na serra
Daí em diante os vaqueiro
Pegaro a mi fazê guerra
Eu não sei que hei de fazê
Para vivê nesta terra

Veio logo o Vasconcelos
No cavalo Zabelinha
Veio disposto a pegar-me
Pra ver a fama qu'eu tinha
Mas não deu pra eu buli
Na panela das meizinha

Sei que tô enchocalhado
Com as argema na mão
Mas esses cavalo mago
Enfio dez num cordão
Mato cem duma carreira
Deixo estirado no chão

Quando foi no outro dia
Veio Antônio Serafim
Meu sinhô Chico Rodrigue
Isto tudo contra mim
Vinha mais muito vaqueiro
Só pro mode dá-me fim

Também vinha nesse dia
Sinhô Raimundo Xexéu
Este passava por mim
Nem me tirava o chapéu
Estava correndo à toa
Deixei-o indo aos boléus

Foram pro mato dizendo
O Mão de Pau vai a peia
Se ocuparo neste dia
Só em comê mé-de-abeia
Chegaro em casa de tarde
Vinham de barriga cheia

Neste dia lá no mato
Ao tirá duma "amarela"
Ajuntaram-se eles todo
Quase que brigam mor-dela
Ficaram todos breados
Oios, pestana e capela

Quem vinhé a mim percure
Um cavalo com sustança
Ind'eu correndo oito dia
As canela não me cansa
Só temo a cavalo gordo
E vaqueiro de fiança

Eu temia ao Cubiçado
De Antônio Serafim
Pra minha felicidade
Este morreu, levou fim
Fiquei temendo o Castanho
Do sinhô José Joaquim

Mas peço ao José Joaquim
Se ele vier no Castanho
Vigi não faça remô
Qu'eu pra corrê não me acanho
Nem quero atrás de mim
De fora vaqueiro estranho

Logo obraram muito mal
Em correr pro Trairi
Buscar vaqueiro de fora
Pra comigo divirti
Tendo eu mais arreceio
Dos cabras do Potengi

Veio Antônio Rodrigues
Veio Antônio Serafim
Miguel e Gino Viana
Tudo isto contra mim
Ajuntou-se a tropa toda
Na casa do José Joaquim

Meu sinhô Chico Rodrigues
É quem mais me aperriava
Além de vir muita gente
Inda mais gente ajuntava
Vinha em cavalos bons
Só pra vê se me pegava

Vinha dois cavalos de fama
Gato Preto e o Macaco
E os donos em cima deles
Papulando no meu resto
Tive pena não nos vê
Numa ponta de carrasco

Ao sinhô Francisco Dias
Vaqueiro do coroné
Jurou-me muito pega-me
No seu cavalo Baé
Porém que temia a morte
S'alembrava da muié

Vaqueiro do Potengi
De lá inda veio um
Um bicho escavacadô
Chamado José Pinun
Vinha pra me comê vivo
Porém vortô em jijum

Veio até do Olho d'Água
Um tal Antônio Mateu
Num cavalo bom que tinha
Também pra corrê a eu
Cuide de sua famia
Vá se recomendá a Deus

Veio até sinhô Sabino
Lá da Maiada Redonda
É bicho que fala grosso
Quando grita, a serra estronda
Conheça que o Mão de Pau
Com careta não se assombra

Dois fio de Januaro
Bernardo e Maximiano
Correram atrás de mim
Mas tirei-os do engano
Veja lá que Mão de Pau
Pra corrê é boi tirano

Bernardo por sê mais moço
Era mais impertinente
Foi quem mais me perseguiu
Mas enganei-o sempre
Quem vier ao Mão de Pau
Se não morrer, cai doente

Cabra que vier a mim
Traga a vida na garupa
Se não eu faço com ele
O que fiz com Chico Luca
Enquanto ele fô vivo
Nunca mais a boi insulta

Sinhô Antônio Rodrigue
Mas seu Gino Viana
Vocês tão em terra aleia
Apois vigie como anda
Se não souberam dançá
Não se metessem no samba

Vaqueiro do Trairi
Diz. Aqui não dá recado
Se ele dé argum dia santo
Todos ele são tirado
Deix'isso pr'Antonho Ansermo
Que este corre aprumado

Quando vi Antonho Anselmo
No cavalo Maravia
Fui tratando de corrê
Mas sabendo que morria
Saiu de casa disposto
Se despidiu da famia

Vou embora desta terra
Pru que conheci vaqueiro
E vou de muda pros Brejo
Mode dá carne aos brejeiro
Do meu dono bem contente
Que embolsou bom dinheiro

Adeus, lagoa dos Veio
E lagoa do Jucá
E serra da Joana Gome
E riacho do Juá
Adeus, até outro dia
Nunca mais virei por cá

Adeus, cacimba do Salgado
E poço do Caldeirão
Adeus, lagoa da Peda
E serra do Boqueirão
Diga adeus que vai embora
O boi d'argema na mão

Já morreu, já se acabou
Está fechada a questão
Foi s'embora desta terra
O dito boi valentão
Pra corrê só Mão de Pau
Pra verso só Fabião!

(Em Cascudo, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. sl, Ediouro, sd, p.89-93)

Artista


Se eu nascese novamente e tivese o poder de escolha nasceria artista.
Novamente mau entendido!
Novamente mau interpretado!
Mais uma vez duro!
Mais uma vez imaturo!
Outra vez desacreditado!
Porém, totalmente feliz!

Mas se eu nascese outra vez
e outra vez nascese artista,
faria tudo igual.
Novamente.
Pois o artista necesita apenas do ar
De um pouco do oceano e da brisa da tarde para lubrificar suas asas facilitando o vôo.
Alimento de sua alma.

Se mais uma vez nascese,
e nascesse artista, em tudo faria igual.
Deixaria de fora apenas as dores do carnaval.

Rosinaldo Luna

12/06/2011

O turismo do "não" do presidente da FUNARTE (pago por nós, claro!)

Todos voces sabem que esse blog não é nem pretende ser politicamente correto, ecologicamente correto, nem nenhum desses modelos de nomenclaturas ultimamante impostas pela mídia. Aqui me dou o direito de postar coisas que ache interessante e que tenham fundamento, sem pretenções políticas ou pessoais. Mas se quiser, postarei elogios rasgados a quem faz arte ou outros talentos bem.
Bom, porque estou falando isso? Não sei! Mas dentre algunms blogs que sigo tem o blog que a Illana Felix escreve e dois textos me chamaram a atenção. Tomo a liberdade de aqui posta-los para todos vocês vêem como a cultura está sendo tratada nesse país. Pasmem e "chupem essa manga".

"O texto abaixo recebi na lista do Forum Potiguar Cultural, repassado por Henrique Fontes. Acho que merece divulgação, porque se for verdade que iremos pagar pelo turismo do Sr. Antônio Grassi que pelo menos ele saiba que Natal não será o seu destino mais agradável. Até porque em época de borboletas, a Cidade do Sol não é mais a mesma. Vale a leitura".




O turismo do "não" do presidente da FUNARTE (pago por nós, claro!)

Olá companheiros,

Estive hoje na Funarte São Paulo, pois houve ampla convocação afirmando que o presidente dessa instituição, Antônio Grassi, iria falar com a categoria teatral. Pela manhã foi com o pessoal do circo.Inicialmente estranhei a divisão por área, mas como sei que cada um tem suas demandas, parecia interessante. Mas após a reunião, penso que é estratégico, pois se trata "individualmente" e assim enfraquece as reivindicações coletivas.Por que digo isso?


Ao chegar, vi alguns gatos pingados, a sala que é pequena, não conseguiu se quer ter metade cheia (e dessa metade uma boa parte era composta pelos puxa sacos de plantões, que adoram autoridades e os funcionários da própria funarte), uma clara alusão de que não se acredita mais nos discursos dos empossados, pois muitos não se deram ao trabalho de comparecer.Iniciado a reunião as 15:30h, o senhor Grassi afirmou que apesar das câmaras setoriais, dos conselhos, de todos os canais de diálogo, estes não são suficientes, por isso está começando a se reunir com as categorias e começou por São Paulo.


Depois percebi que isso queria dizer o seguinte: é preciso fingir que estou dialogando com os artistas, porque a Funarte não tem projeto e pior, NÃO TEM DINHEIRO.Editais para esse ano? Esqueçam. Encaminhamento de uma política séria? Esqueçam.O orçamento do ano para a Funarte era de 120 milhões, com o contigenciamento (palavra e ação criada para dizer: não tem dinheiro para os pobres, apenas para os banqueiros - pois como sabem, a economia é para pagar juros ou socorrer os grandes empresários), enfim, com o contigenciamento restou 60 milhões. Como esse é um governo de continuidade, palavras do senhor Grassi, é preciso honrar o edital do procultura lançado o ano passado e que, estrategicamente, foi prorrogado até 10 de janeiro desse ano (ainda que muitos já tenham até estreiado os espetáculos, como foi relatado na plenária).


Enfim, vão pagar esse edital que custará 58 milhões. Façam as contas e verão quanto restará. Como lançaram editais de ocupação das salas e vinte e poucas oficinas de teatro (atenderá todo o país?), mais vinte e poucas de circo, de dança... foi-se o restante do dinheiro.Querem mais dinheiro? É preciso lutar ao lado da Funarte junto ao ministério do planejamento e da fazenda para que eles descontigenciem a nossa grande bolada! Seria cômico se não fosse trágico.


Grita: Ah mas o Mirian Muniz, que foi uma luta sua no passado, Grassi... nos diga quando será lançado?Grassi: Não será!


Outros editais como Artes Cênicas de Rua, coisa sem importância, se quer foi mencionado. (E eu confesso que não tive a menor vontade de pegar o microfone para lançar essa pergunta, pois tudo parecia tão estranho, parecia filme de Tim Burton - aliás, o cineasta é bom, o clima lá era péssimo!)


E o Prêmio Teatro Brasileiro?
É com o Congresso!


Era e é um diálogo de surdos! Falamos, revindicamos e a galera do governo finge que nos escuta. E depois dá-lhe retórica: "mas estamos dialogando, não seria pior um governo autoritário?"Preparem-se! Agora o senhor Grassi e sua equipe irá viajar pelo Brasil, tudo bancado com o nosso dinheiro, para que ele dialogue com os artistas de circo, da dança, e do teatro. Mesmo sabendo que não tem dinheiro para nada e nem tem projeto. Mas é preciso demonstrar como são DEMOCRÁTICOS.Isso me lembra um poema de Manuel Bandeira, no qual ele descreve a renúncia de Jânio Quadros e em seguida vai viajar pela Europa, finalizando com: "E os pobres que se danem!"


Companheiros, a dependermos desse governo, o teatro de grupo se extinguirá! Anunciem aos quatro ventos: TEATRO DE GRUPO. PERIGO DE EXTINÇÃO DA FAUNA BRASILEIRA!Mas eu sou uma voz pessimista. Havia outros companheiros, Danilo e Renata, quem sabe eles não tem notícias melhores? Pois eu se quer aguentei até o final, sai meia hora antes dos abraços e dos apertos de mãos cordiais.


Há braços
Pernas
E atiradeiras!


Para aonde vão 227 milhões do MinC?

O maior choro da Ana de Hollanda, desde o começo do ano, era que o orçamento do MinC tinha sido cortado drasticamente e restado apenas 60 milhões de reais. E o que é esse aporte orçamentário de 227 milhões que nunca foi falado na história deste país?


DECRETO DE 9 DE JUNHO DE 2011
Transfere dotações orçamentárias constantes do Orçamento Fiscal da União, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para o Ministério da Cultura, no valor de R$ 227.000.000,00.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e tendo em vista a autorização contida no art. 66 da Lei n. 12.309, de 9 de agosto de 2010,
D E C R E T A :
Art. 1. Ficam transferidas, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para o Ministério da Cultura, dotações orçamentárias constantes do Orçamento Fiscal da União (Lei no. 12.381, de 9 de fevereiro de 2011), no valor de R$ 227.000.000,00 (duzentos e vinte e sete milhões de reais), de acordo com os Anexos I e II deste Decreto.
Art. 2o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 9 de junho de 2011; 190da Independência e 123o da República.
DILMA ROUSSEFF
Miriam Belchior

Publicado aqui


Atualização 1:

Recebo informação agora de Henrique Fontes, de uma fonte segura, que esse remanejamento é para fazer face aos investimentos do PAC. Nossa, então agora fiquei mais transtornada ainda.

Quem não ouviu falar das lindas PRAÇAS DO PAC, que serão construídas pelo Governo Federal e entregue aos Municípios contemplados por edital para instalação de espaços culturais em áreas com IDH baixo?

A intenção é ótima. A prática é PÉSSIMA. Alguém conhece a historinha de um Governo Estadual que saiu construindo dezenas de Casas de Cultura e repassando suas administrações para governos municipais? Aonde foi terminar essa história? Casas de Cultura fechadas, mofadas e abandonadas em grande maioria. As exceções são as que estão funcionando até agora, ainda que com parca atividade cultural.

O município de Natal mantém, desde o início dessa gestão, três espaços culturais inativos: o Teatro Sandoval Wanderley, o Espaço Jesiel Figueiredo e o Memorial Natal. Sabem quantos servidores efetivos existem para esses espaços? NENHUM.

A prefeitura não consegue manter pessoal (estou falando de porteiro e zelador, não estou falando de bibliotecária porque seria luxo demais), água, luz, telefone dos espaços que tem, aí agora, por causa dessa Praça do PAC no bairro de Nossa Senhora da Apresentação virão anjos tocando arpas e anjas dançando ballet para serem a programação cultural do lugar? Porque verba para manter programação cultural nesse PACzinho NÃO TEM. Se alguém disser o contrário, é história da Carochinha. É um novo elefantinho branco que eu e você iremos trabalhar muito, pagar muito imposto, para construir e ver mofar. Quer ver?


Atualização 2:
A única biblioteca municipal de Natal, a Esmerado Siqueira, até hoje não tem um(a) bibliotecário(a) concursado como prevê a norma que rege a profissão em questão.

Transcritdo POPORRI de Illana Felix

07/06/2011

Amor



Me perguntaram
Como posso amar amigos
que nunca vi, e nem conheço...
Eu respondi:
- Nunca vi Deus, mas sinto Ele
dentro do meu coração.

06/06/2011

Jóias Da Música (Vol 7) - Wagner - Abertura E Morte De Amor De Tristão E Isolda.mp3 - 4shared.com - online file sharing and storage - download - Jóias Da Música (Vol 7) - Wagner - Abertura E Morte De Amor De Tristão E Isolda.mp3

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05/06/2011

Diálogos com o teatro popular no Nordeste



Diálogos com o teatro popular no Nordeste





por Joana Abreu Oliveira

Mestranda em Arte na UnB, atriz e arte-educadora





CAMAROTTI, Marco. Resistência e voz: o teatro do povo do Nordeste. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2001. 313 p.

Embora seja possível encontrar uma profusão de manifestações folclóricas no Brasil e especialmente no Nordeste do país, poucos são os estudos aprofundados a esse respeito. É, entre outras coisas, com o intuito de diminuir tal lacuna no que toca ao Teatro Folclórico Nordestino, que o professor, ator e encenador pernambucano Marco Camarotti apresenta suas investigações no livro Resistência e voz: o teatro do povo do Nordeste. Tais investigações giram em torno da origem, das características e do sentido contemporâneo de quatro formas de teatro folclórico representadas no Nordeste do país: o Bumba-meu-boi, a Chegança, o Pastoril e o Mamulengo. Tais formas foram escolhidas por serem, em sua opinião, as que apresentam estrutura dramática mais claramente definida.

A hipótese do autor é que tais manifestações são não apenas restos dos rituais religiosos pré-históricos, como apontam algumas correntes de estudo, mas expressão de relações sociais e políticas. Tal hipótese faz com que Camarotti busque o diálogo com disciplinas como a Antropologia Social e a Sociologia da Arte, a fim de construir uma metodologia adequada para desenvolver suas reflexões e chegar a algumas conclusões. Com o intuito de fundamentar as idéias expostas, na primeira parte do livro, o leitor tem a possibilidade de entrar em contato com informações bem completas a respeito das conexões entre teatro, ritual e teatro folclórico.

A habilidade em tecer relações e diálogos entre autores e correntes de pensamento preocupados com o objeto em questão é um dos méritos do livro que traz ainda um cuidadoso levantamento do histórico e dos símbolos envolvidos em cada uma das quatro formas teatrais escolhidas. Em relação a essa reunião de símbolos, é possível que a obra seja uma das referências mais completas da atualidade, especialmente por trazer a contribuição de questionar a situação de muitos desses símbolos em nossa contemporaneidade. Referência tão abrangente e cuidadosa talvez deixe o leitor desejoso de que alguns símbolos citados fossem mais profundamente explorados.

É importante ressaltar que essa abrangência da pesquisa dá-se em relação à maneira como tais manifestações são realizadas em Pernambuco. Embora o autor cite, entre outros, exemplos do Bumba-meu-boi do Maranhão ou da Chegança da Paraíba, esses surgem apenas no sentido de possibilitar uma visão mais clara da maneira como o folguedo se manifesta em Pernambuco. Isso é bastante compreensível se pensarmos que seria necessário outro estudo, talvez do mesmo porte, para abarcar as especificidades das manifestações em cada um dos outros Estados em que ainda existem, e, certamente, não era essa a intenção do autor.

Para os estudiosos do assunto, o volume apresenta bibliografia bastante completa. Com grande parte dos autores citados, tais como Augusto Boal, Mário de Andrade, Metín And, Câmara Cascudo, Oswald Barroso, Hermilo Borba Filho, Ascenso Ferreira, Peter Burke, Fernando Augusto Gonçalves Santos, o diálogo do texto é bastante preciso, apoiando-se em muito do que já foi dito anteriormente e alçando assim saltos que vão um pouco além. Um arcabouço tão consistente de referências, contudo, faz-nos sentir falta, em alguns momentos, de conexões mais abrangentes com obras como a de Mikhail Bakhtin. Embora citado, talvez esse autor pudesse contribuir mais, principalmente se pensarmos na opção de Marco Camarotti de ressaltar e iluminar o caráter do folguedo como "um potente canal de comunicação" (p. 174) para as comunidades, bem como elemento de expressão da voz desses grupos sociais. Tal contribuição poderia estender-se também para outra característica do folguedo explorada: o cômico, o grotesco e o obsceno como instrumento de crítica e compreensão da realidade.

Para os estudos da performance, as contribuições de Resistência e voz: o teatro do povo do Nordeste são consideráveis, já que explicita diversos elementos presentes no Teatro Folclórico do Nordeste que são fundamentais para qualquer teatro, mostrando, embora não explicitamente, que o Teatro Folclórico pode ser uma referência nos processos de estudo e formação para o teatro brasileiro em geral. Entre esses elementos estão o uso da improvisação e a ampla participação dos espectadores.

Os fatores do contexto social e histórico presentes nos quatro folguedos explorados são bem ressaltados. Isso se explicita, por exemplo, na reflexão sobre "noções como 'autenticidade', 'identidade' e 'raízes'" que, para Camarotti, "são idéias típicas de culturas pós-coloniais que necessitam elaborar sinais que possam reafirmar e enfatizar suas novas condições de nações independentes" (p. 69). Comentário similar é tecido quando se trata das relações de classes, presentes na luta entre opressor e oprimido que se revela nos enredos do teatro de mamulengo ou, mais sub-repticiamente, na sugestão de que os conflitos entre mouros e cristãos presentes nas encenações seriam, atualmente, menos um símbolo da luta religiosa e mais o reflexo das lutas sociais. Essas mesmas lutas sociais poderiam estar fortemente relacionadas com a histórica repressão aos folguedos, sendo os espetáculos do Teatro Folclórico do Nordeste vistos "como uma espécie de ameaça por aqueles que não estão interessados na tomada de consciência do povo e no seu conseqüente fortalecimento como uma massa dotada de voz e vontade próprias" (p. 154). Essa visão ameaçadora deve-se ao fato do teatro, embora não mais carregado da função religiosa propriamente dita, ser uma experiência mágica, de transformação, que reforça a cosmologia coletiva "ajudando as pessoas não só a tomarem consciência da estrutura social e de sua posição dentro dela, mas também a reagirem adequadamente diante de cada situação em particular" (p. 174).

Outro elemento do contexto social ressaltado é a reduzida participação das mulheres na maioria dos folguedos ao longo da história. Possíveis explicações oferecidas por diferentes pesquisadores são mencionadas para justificar tal situação, além de ser citado o fato de, na atualidade, tal realidade estar se modificando bastante. Entretanto, ainda que as mulheres sejam mencionadas várias vezes, fica a impressão de uma visão masculina das mesmas. Falta dar voz a essa figura feminina, não só no próprio folguedo, mas também nas pesquisas.

Na prosa bem construída do livro de Camarotti, trazer à tona tantos elementos do contexto social tem objetivo muito claro. Toda a reflexão do autor se conduz para um fim de estabelecimento de relações entre o Teatro Folclórico do Nordeste e seu Contexto Social para, a seguir, aproximar-se da noção de Drama Social. A fim de empreender essa tarefa, é elaborada uma metodologia específica, apoiada em autores como Mary Douglas, Basil Bernstein, Elaine Turner, Richard Schechner, Victor Turner e Carlo Ginzburg. Assim, Marco Camarotti parte da dinâmica na relação entre indivíduo e sociedade para investigar de que maneira tal dinâmica atua na manutenção e na renovação da cosmologia de cada grupo social, entendendo ainda que é justamente nessa dinâmica de tensões entre o universo do sujeito e o do grupo social que é conferido o significado à pessoa e às suas ações.

Camarotti procura conectar tais idéias à proposição sociolingüística de Bernstein, que afirma que as formas sociais irão atuar no discurso do indivíduo, o qual, por sua vez, acabará por reorganizar essas próprias práticas sociais. Contribui ainda para tal metodologia a visão de Turner, que sublinha o caráter dinâmico e sempre em construção das estruturas sociais, bem como seu conceito de Drama Social como unidade de um processo social desarmônico suscitado em situação de conflito.

A partir de todas essas ferramentas, o autor explicita o forte papel social de tais manifestações e o poder de comunicação de seus símbolos, inferindo, conseqüentemente, que há poucas possibilidades de que tal teatro deixe de existir, mas sim que permaneça e se renove, se adapte, se transforme. Embora a proposta seja bastante interessante e ainda que as ferramentas utilizadas tenham consistência, talvez valesse a pena debruçar-se mais lentamente sobre cada uma delas, bem como sobre as relações estabelecidas entre as mesmas. O próprio autor menciona, na introdução, o fato de o estabelecimento de uma metodologia consistente não ter sido plenamente atingido.

Finalmente, talvez fosse uma contribuição valiosa para o material reunido se pudéssemos nos deparar mais vezes com as vozes dos próprios artistas do Teatro Folclórico a respeito de seu fazer. Passagens como aquela em que Camarotti cita o Capitão Antonio Pereira dizendo que "sem dúvida, esse bumba-meu-boi parece ser uma coisa que ajuda a humanidade inteira" dão um brilho especial à proposta.

Por outro lado, Marco Camarotti alcança com destreza a meta central de fazer um levantamento bastante completo e significativo de informações sobre a situação das quatro formas de Teatro Folclórico escolhidas. Num texto prazeroso e pleno de dados e informações consistentes, o autor não se limita a registrar tamanha riqueza de nossa tradição oral, mas possibilita ao leitor a profunda reflexão sobre o papel que as formas de Teatro Folclórico ocupam e podem vir a ocupar no Nordeste e no mundo.


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