Coletivo CIDA (RN) apresenta espetáculo na Bienal Sesc de Dança
O coletivo artístico potiguar vai apresentar o espetáculo “Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome” em Campinas e São Paulo.
Por Cecília Oliveira
Fotos: Renato Mangolin |
O Coletivo CIDA (RN) apresenta o espetáculo
Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome na Bienal Sesc de Dança, em Campinas, nos dias 4 e 5 de outubro, e também na extensão da Bienal, em São Paulo, nos dias 9 e 10 de outubro. Com acessibilidade em LIBRAS e audiodescrição, o espetáculo propõe uma experiência cênica que acolhe a diversidade de corpos, modos de existir e linguagens híbridas entre dança e teatro.
A obra, contemplada pela primeira edição do Prêmio Sesc de Artes Cênicas, é a segunda parte da Trilogia em Dança-Tragédia, criada pelo coreógrafo René Loui com interlocução dramatúrgica de Jussara Belchior.
O espetáculo se constrói a partir de um gesto de escuta e evocação de Stella do Patrocínio (1941-1992), poeta negra que viveu por quase três décadas em um manicômio. Suas poesias revelam as agruras de um corpo preto em cárcere, e são essas palavras que permeiam a montagem, segunda obra da Trilogia em Dança-Tragédia, criada pelo Coletivo CIDA.
A peça propõe uma discussão sobre o que pode – ou não – ser considerado dança ou teatro, além de questionar a estigmatização, a desumanização, o extermínio e a invisibilidade de diversos grupos sociais historicamente marginalizados. O falatório de Stella se entrelaça à presença dos corpos em cena, produzindo um campo de fricção entre linguagem e impossibilidade, identidade e alteridade. Numa tentativa de dizer com Stella, e não por ela, a palavra se arrasta, tropeça, se esvai; e o corpo dança como quem recusa a domesticação.
O elenco é formado por Ana Cláudia Viana, Jânia Santos, Marconi Araujo, Pablo Vieira, René Loui e Rozeane Oliveira, artistas reconhecidos na cena das artes cênicas do Rio Grande do Norte.
O convite
O convite para a Bienal surgiu após uma circulação estratégica realizada pelo grupo em agosto de 2024, passando por importantes espaços culturais de São Paulo e Minas Gerais, como o Sesc Santo Amaro (SP), o Cine Theatro Central de Juiz de Fora (MG) e a abertura da Mostra Internacional de Dança de São Paulo (MIDsp), no Itaú Cultural, com o espetáculo “Corpos Turvos”. A circulação foi viabilizada com recursos da PNAB RN.
A presença nesses palcos ampliou a visibilidade do coletivo, permitindo que críticos, curadores, programadores e gestores acompanhassem de perto as criações do grupo. Em dezembro de 2024, veio o convite oficial para integrar a Bienal Sesc de Dança. Meses depois, o Coletivo CIDA também foi convidado para a Extensão da Bienal em São Paulo, até então, voltada exclusivamente a companhias internacionais. Em 2025, essa curadoria se ampliou e passou a incluir dois grupos brasileiros: o Coletivo CIDA e o Balé Folclórico da Bahia.
Para René Loui, diretor artístico e cofundador do coletivo, a participação na Bienal carrega um sentido profundo de troca e escuta: “A expectativa é alta e tem direção. Quero encontrar artistas, obras e o povo da dança. Espero um ambiente em que ver obras, participar de ações formativas, conversar no pós-sessão e, sim, estar nas festas componha um mesmo campo de trabalho. Vou à Bienal para friccionar a minha prática e a do coletivo CIDA com novos contextos. Quero observar como cada criação se organiza no tempo, no espaço e em relação com o público. Quero desenvolver perguntas que possam me mobilizar ainda mais a partir daí.”
René também destaca a importância de um gesto curatorial que assume a acessibilidade como princípio, e não como adendo: “Nesse momento o que mais me inquieta é esse gesto curatorial que assume a acessibilidade e as diferenças como hall de entrada do evento. Minha expectativa é que isso se materialize nas experiências concretas, nos modos de receber, orientar, descrever e traduzir que não ‘explicam’ as obras, mas constituem as obras. Levo comigo uma pesquisa que venho desenvolvendo ao longo dos anos enquanto artista independente e como integrante do Coletivo CIDA. Uma pesquisa que entende a audiodescrição como partitura poética, que nasce do que a cena pede, com momentos em que a palavra é mínima, outros em que detalha, e outros em que silencia para que som, vibração e alteridades falem primeiro. Levo também LIBRAS e outras camadas sensoriais como presenças cênicas, não como adendos.”
Para Arthur, cofundador e produtor executivo do coletivo, a produção é mais do que logística: “Produção para mim também é linguagem. O que fizemos na nossa circulação em 2024 não foi só deslocamento. Foi criar condições de encontro – quem convida? Quem chega? Quem assiste? Como se documenta? Estar na Bienal confirma que esse cuidado e método podem dar suporte e estruturar a cena. Agora, queremos ampliar essa rede e seus procedimentos, entrelaçar bastidores, compartilhar protocolos e devolver ao campo das artes modos de fruição mais abertos, múltiplos e partilhados.”
Retorno aos palcos
Fotos: Renato Mangolin |
Em suas palavras, o retorno tem um significado ainda mais profundo: “Nestes últimos dias, tenho vivido em suspensão. Como se ainda não conseguisse acreditar que o que eu mais temia – demorar a voltar aos palcos – finalmente se dissolveu. Sempre tive a certeza de que a dança permaneceria em mim, mesmo que meu corpo não fosse mais o mesmo. Hoje, habito um corpo outro. E esse reconhecimento é profundamente significativo. Ele me faz pensar, com ainda mais intensidade, sobre algo que sempre esteve na minha trajetória artística: a transformação do movimento. Trabalhar com pessoas com e sem deficiência sempre me levou a investigar como corpos diferentes podem encontrar a dança. Agora, vivendo essas limitações em mim, essa pesquisa se tornou carne, verdade, urgência.”
Rozeane finaliza dizendo: “As movimentações que eu fazia antes não acontecem mais da mesma forma. Precisam de ajustes, de cuidado, de escuta. Mas elas existem. E isso, para mim, é a maior vitória: compreender que é possível estar em cena, dançar, criar e compartilhar, independentemente da forma. Voltar aos palcos agora não é apenas retomar um trabalho: é celebrar a vida. É resistir. É transformar o que poderia ter sido apenas dor em arte. Eu estou feliz, estou em êxtase. Estou flutuando. Acho que vou passar a viagem chorando de emoção.”
Sobre a Bienal Sesc de Dança
A Bienal Sesc de Dança é um festival de referência no Brasil para a dança contemporânea, que reúne diferentes linguagens, culturas, e públicos, com uma forte vertente educativa e de diálogo social.
Serviço
Coletivo CIDA (RN) apresenta Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome
Grupo: Gênero: Dança contemporânea / Dança-tragédia
Acessibilidade: LIBRAS e audiodescrição
Campinas – Bienal Sesc de Dança
Datas: 04 e 05 de outubro (sexta e sábado)
Horário: 17h
Local: Teatro Sesc Campinas
São Paulo – Extensão da Bienal de Dança
Datas: 09 e 10 de outubro (quarta e quinta)
Horário: 20h
Local: Teatro Sesc 24 de Maio
Ingressos (ambas as cidades):
Inteira: R$ 40,00
Meia-entrada: R$ 20,00
Credencial Plena Sesc: R$ 12,00