07/08/2011

Entrevista da Diana Fontes ao Diário de Natal.

Sou muito fã da coreografa e diretora Diana Fontes. O sucesso do 3o. Encontro de Dança Contemporânea do RN, deve principalmente à sua garra e determinação. O Diário de Natal publicou um entrevista maravilhosa com a artista. Por outro lado, também o repórter Sérgio Vilar dá show na redação e resultou na matéria a seguir.

A 3ª edição do Encontro de Dança Contemporânea do Rio Grande do Norte (encontrodedanca.com) teve início segunda-feira e segue até domingo com uma proposta clara: popularizar e tornar a dança compreensível ao grande público para então pensar em tradição e só assim construir caminhos sólidos para a evolução do setor. A programação contempla apresentações de grupos locais e convidados nacionais, além de palestras com alguns expoentes da dança no Brasil e Portugal. O Teatro Alberto Maranhão recebe os espetáculos locais e nacionais até sábado, sempre a partir das 20h30. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 15 (meia). O outro palco do evento é a Casa da Ribeira, sempre às 16h, com apresentações locais, palestras e acesso gratuito. A programação na Casa da Ribeira segue até domingo, quando se insere no projeto Circuito Cultural Ribeira. Em ambos os palcos, o intuito de fundamentar a discussão sobre a dança contemporânea no estado. Quem fala mais é a coordenadora geral do Encontro, a diretora de teatro Diana Fontes.



Qual a discussão pertinente para a dança potiguar agora?



O Encontro sempre tem um mote. O primeiro foi sobre o que era a contemporaneidade e qual o processo para o bailarino. O segundo, recaiu em cima da estética e ética da contemporaneidade. Nesse terceiro o mote é Tradição e Contemporaneidade: parceiras ou antagônicas?.



E qual o resultado prévio?



Na dança existe muito essa coisa de se dizer "bailarino contemporâneo", de ter liberdade de criar à sua maneira. Será que dessa forma ele não se fecha cada vez mais em um gueto? É o seu falar, sua forma de se expressar, mas para quem? Muitas vezes o público em geral - o nosso foco - se assusta com essa liberdade. Então, se torna uma arte não-entendível. Onde está a comunicação? É preciso respeitar o tempo do público ou o bailarino vai continuar sem público, sendo gueto. Essa busca é em todo o Brasil, em todas as esferas. Queremos um produto de massa. Eu quero popularizar a dança em meu Estado, mas com qualidade, que é diferente de massificação. A liberdade é massa, mas tem que ter um lucro. Penso que a contemporaneidade funciona como uma grande espiral: ela gira, informações giram, são intensas, mas se não tiver um núcleo, ela voa, se perde no ar.



Há um macete para o público começar a entender dança?



O público se identifica se você tiver identidade naquilo que está fazendo. Pode ser correndo, parado, dançando. Ele percebe, mesmo que à sua maneira. Essa identidade buscamos pela liberdade de criação, mas a partir da gama de informações do hoje sem tirar o pé do barro, da história. É o olha interno. Agora, se acha que dança contemporânea é livre e se faz o que quer, não dá. A contemporaneidade exige um processo que inclui a liberdade e referência. As informações chegam muito rápidas. Ou você identifica essas informações e elabora um mix com suas referências pessoais ou você e o público se perdem em um abismo. Um exemplo: Chico Science estourou porque mixou a contemporaneidade com a referência dele. Cleber Oliveira, que tocou ontem, une a música eletrônica com tambores. Por mais que tenha rodado o mundo e hoje esteja na Alemanha, a sua música é presente e aceita pelo público.



O TAM tem aberto mais a pauta às escolas de dança?



As escolas de dança são extremamente importantes, mas não devem ser vistas como trabalho profissional. Aquilo é dança em formação. É preciso mostrar trabalhos profissionais. Veremos excelentes trabalhos nacionais e locais nesse Encontro. O TAM é o teatro oficial da cidade. Precisamos receber grandes espetáculos de fora. Agora, precisamos utilizar os espaços alternativos para transformar os espetáculos em temporadas. Aí há sistematização e abertura de edital ao setor. E teremos mais incentivo para criar. Muitos desistem porque já entram devendo. Gestores entrariam com equipamento e nós com o produto. Aí se cria público e a dança vira produto com mercado. Meu trabalho é um produto.






Edição de quinta-feira, 4 de agosto de 2011

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