22/12/2011

Projeto Cena Aberta Formação é reprovado pela Comissão da Lei Câmara Cascudo

O texto a seguir, do reporte Yuno Silva, transcrevi na íntegra, por achar que o debate é poderoso e a artigo está muit bem desenvolvido. Não estou plagiando, apena transcreví a matéira do grande repórter para cá. De qualquer maneira é uma  montante significativo para ficar concentrado nas mãos de uns poucos artistas. A matéria em questão foi publicado no jornal Tribuna do Norte no caderno de notícia.
Leia a matéria a seguir.

Rosinaldo Luna



O debate sobre um modelo ideal capaz de delinear políticas públicas para atender o segmento cultural acabou vindo à tona junto com a polêmica gerada a partir do indeferimento da versão 2012 do projeto Cena Aberta. Enquadrado pela equipe que coordena a Casa da Ribeira na Lei estadual Câmara Cascudo, o projeto previa a seleção de cinco atores interessados em participar de uma vivência profissional de dez meses para realização de pesquisa, concepção e montagem de um espetáculo que seria encenado a um público estimado em 11 mil pessoas.

A proposta, orçada em R$ 369.357,40, foi sumariamente reprovada pela Comissão Normativa responsável pela análise, que considerou falta de prioridade para com os artistas e concentração de recursos destinados aos gestores do Cena Aberta Formação. De acordo com o parecer assinado pela produtora Danielle Brito, o valor da pauta cobrada pela Casa (R$ 1,3 mil) é bem superior ao cobrado pelo Teatro Alberto Maranhão (R$ 400); os cachês de coordenação, produção, direção, assessoria, dramaturgia e designer representam um montante significativo dentro do orçamento; e que o aluguel dos ônibus que irão levar estudantes para assistir o espetáculo é mais caro que o investimento nos artistas.
"O maior problema, a meu ver, foi a falta de diálogo. Não houve diligência, em nenhum momento fomos convocados para explicar as planilhas apresentadas", disse o ator Henrique Fontes, um dos diretores da Casa da Ribeira. "A pauta serve para garantir a manutenção da Casa, e os cachês pagam o nosso trabalho. Estão confundindo as coisas e não é de hoje". Henrique afirma que o projeto Cena Aberta Formação era a aposta para garantir o funcionamento da Casa da Ribeira durante o ano de 2012. "É irresponsabilidade comparar o TAM com a Casa, duvido muito que o Teatro sobreviva com a pauta que cobra. Ali tem aporte público com o imposto que nós pagamos". Ele acredita que o caso em questão também abre debate para o tipo de política que se quer construir: "Quando se pensa de forma séria e comprometida, o foco é voltado para o público. Quando se pensa em política pública apara a Saúde pensamos nos médicos ou nos pacientes?", questiona.
Ele acredita que a mudança no formato do Cena Aberta, que em 2011 abriu edital de ocupação para propostas desenvolvidas por artistas e/ou grupos, se debruça sobre a lacuna que existe na falta de formação não só do artistas mas também do público. "O ator/atriz solo, que está sem grupo ou começando, fica sem opção para complementar sua formação. Percebendo isso, pensamos em contemplar essa necessidade na edição 2012, por isso a presença da palavra Formação".
Henrique explicou que o projeto consiste no recrutamento através de seleção pública de cinco pessoas que passarão quatro meses trabalhando na criação de um espetáculo e mais seis meses em temporada (72 apresentações, destas 64 para escolas). "Cada artista receberá uma bolsa mensal de R$ 1,2 mil durante todo o projeto".
Danille Brito, que emitiu o parecer reprovando o projeto, afirmou que a proposta não é destinada à manutenção do espaço, e que destina mais recursos para objetivo secundário (pautas, cachês e transporte) que o primário (a formação). "Fiz as contas e cheguei ao valor de quase R$ 70 mil investidos na formação de cada um dos artistas. Dividido por 11 espectadores dá R$ 31 por ingresso e desse valor cerca de R$ 14 vai parar nas mãos dos gestores. Ou seja, de todo o orçamento, cerca de 46% é da Casa, ou mais de R$ 160 mil". Danielle pediu vistas ao processo quando percebeu o pagamento de cachê para elaboração do edital. "Eles já criaram tantos editais, seria necessário pagar por mais esse serviço. Não era o caso de adaptar?", pergunta.


ILHA DA MÚSICA

Apesar da análise dos pareceristas ser subjetiva, eles seguem algumas diretrizes dispostas no regulamente interno da Comissão. O caso recente da Ilha da Música, que apresentou um projeto para comprar o terreno onde funciona a sede do projeto na zona Norte, também levantou questionamentos sobre o entendimento do que é Cultura e até onde ela se confunde com ações sociais e/ou educativas.
"Primeiro que a Lei CC não permite a compra de bens. Vai ficar em nome de quem? O projeto também esbarrou nesse perfil social", disse o músico Paulo Sarkis, membro da Comissão que analisou o projeto. "Nesse caso específico da Ilha da Música, teriam que procur a FJA ou a Secretaria de Educação ou de Ação Social para viabilizar a compra do imóvel".
Inês Latorraca, companheira do trombonista Gilberto Cabral e parceira do músico na Ilha da Música que atende crianças em condição de risco social, lembra que "na hora de servir como exemplo para o Ministério da Cultura o projeto é de Cultura, na hora de ser analisado pelo lei de incentivo é visto como ação social".



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